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sábado, 3 de julho de 2010

PSICOMOTRICIDADE: AFETIVIDADE E EMOÇÃO



           A criança ao nascer sai de um ambiente protegido, para viver em outro que nestes primeiros dias lhe é hostil. Frio, alimentar-se por si mesma, são fatos novos em sua breve vida. Na vida intra-uterina o corpo de mãe, e o dela (criança) vive em perfeita simbiose, alimento só o que vinha via cordão umbilical, frio, jamais era por ela sentido, pois a temperatura no útero de sua mãe era exatamente adequada as suas condições de vida.
           Ao perder está simbiose, vem à necessidade de um olhar, um toque, uma carícia, em seus primeiros anos de vida esta relação será de vital importância para suas aquisições intelectuais, psíquicas, e sócio afetivo. O viver com sua mãe, com seus familiares será de grande importância para um crescimento em equilíbrio. Todos nós em nossos primeiros anos de vida tivemos estas necessidades, os nossos processos afetivo-emocionais com toda certeza tem no afeto materno-familiar sua base de sustentação.
           Uma criança que cresça em um ambiente de afetividade, correção, e acima de tudo justiça, terá melhores condições de ser equilibrada emocionalmente em sua vida adulta. Segundo as informações de Teresa Cristina Serra Damiano Borghi, divulgada no site da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, a Psicomotricidade é de vital importância para não somente a infância, mas, também na velhice acrescentar melhor qualidade de vida.

Hoje tem uma nova cara, pois passou a ter importância à qualidade de sua vida quando se está na velhice, não só no aspecto financeiro, mas também a preservação de seus potenciais cognitivos, competência social e mobilidade motora compreendendo que estes fatores influenciam sua saúde.

           O estilo de vida da pós-modernidade, com suas necessidades, e uma busca incessante por melhores condições econômicas, tem colocado as gerações do pós- modernismo em uma situação de ‘necessidades extremas’, isto tudo posto, vemos florescer hábitos e costumes que antes eram ignorados e rejeitados. A afetividade familiar, um modo de vida com mais movimentos, mais atividades físicas foram colocados de lado. As crianças que antigamente brincavam de rodinha, de queimado, pique esconde dentre outras brincadeiras que exigiam movimento, mais atividade física foram colocados de lado por telas de um vídeo game, internet e jogos de computador, que deixam seus jogadores inertes sem o menor movimento, além de consumo de calorias que não serão gastas.
           Está situação onde o ser está interagindo de forma impessoal, sem o menor contato, sem esforço, tirou de nossos jovens a chance de conviver com as diferenças, com situações de perda, e acima de tudo de aceitar estas perdas. São inegáveis as facilidades trazidas com a computação, com os apetrechos modernos, que facilitam e muito a nossa vida, e as relações humanas, só há de se ressaltar os danos da não preparação para tal advento, e os efeitos negativos sanados. Vemos hoje que, esta geração (entre 10 e 25 anos) está reagindo de forma bem atípica as carências trazidas por tais tecnologias, mesmo as situações que envolviam o bulling, antigamente eram resolvidas de uma forma mais equilibrada que hoje, o contato pessoa a pessoa ajudava a se dissipar qualquer eventual retaliação violenta. Segundo os profissionais da saúde, dentre vários fatores para uma boa saúde mental está o respeito, o cuidado por si mesmo, pelos outros e pelo planeta, além de ter doses elevadas de amor pela natureza (incluindo aqui os animais e a vegetação).
           O cuidar é um ato consciente, aprendido no dia a dia e no convívio junto com outras pessoas com a mesma finalidade, e nestes atos estão os principais geradores de prazer e contentamento que o mundo conhece; portanto, a forma de educar, de conviver e viver influencia de forma direta, total e definitiva o sujeito. O que vemos com a mudança no seio das famílias, o isolamento proporcionado pela tecnologia, à falta de limites e valores entre os jovens, é que a sociedade está convivendo com situações claras de falta de afetividade, de carinho e de amor. Segundo Érica Gomes Pontes, a internet propiciou uma ligação imediata entre inúmeros sujeitos, no entanto, as relações que ali se estabeleceram são fictícias, um engodo para os que se utilizam dela, pois continuam em grande isolamento, em uma individualidade perigosa. E reitera afirmando que no dia a dia esquecemo-nos do prazer existente no toque.
           As questões psicomotoras estão intrinsecamente relacionadas à afetividade do sujeito, um ser que em sua infância tenha tido em sua criação o carinho, a afetividade de entes queridos, crescerá sabendo de sua importância como ser humano que é de suas responsabilidades como ser social, e que vive em uma sociedade, se portara com respeito aos seres viventes, as várias formas de vida existentes, e principalmente ao ser humano como seu igual. Segundo Amanda Cabral Goretti a “relação entre o homem e o seu corpo, considera não só aspectos psicomotores, mas os aspectos cognitivos e sócio-afetivos que constituem o sujeito”.
           É neste ponto em que quero fazer um breve comentário sobre o trágico desfecho do caso Eloá, observando as situações descritas pelos órgãos de imprensa no decorrer, e no pós sequestro. Vimos ao longo do caso à inabilidade do sequestrador – cabe aqui comentar que no Brasil ainda é muito comum casos, apesar de já estar bem reduzido, de crimes passionais, por ciúme, ou traição – que não se conformando com a separação de sua namorada Eloá, ameaço-a por muitas vezes devido ao fim do namoro, culminando com todo o desfecho já de todos conhecidos pelas reportagens jornalísticas.
           Nesta situação fica bem evidente a falta de um lar onde, a questão certa errado estivesse bem clara, e trabalhadas. Também a afetividade foi pobre, pois, demonstrou este jovem ter sérios distúrbios evidenciados com a perda. “Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo” (GORETTI, CEPAGIA – Centro de Estudo Pesquisa e Atendimento Global da Infância e Adolescência). Portanto, neste caso, como em tantos outros de nossos dias, vemos a falta do toque, do contato, e da afetividade influenciando de forma efetiva o comportamento do sujeito, de suas ações, e enrijecendo o ser ao ponto de torná-lo capaz de atitudes até aquele momento inconcebíveis, e impensáveis. É com estas relações, que todos nós nos tornamos mais humanos, aprendendo a conviver com as situações de perda, mas, para que estas ocorram é preciso se estabelecer os limites adequados ao desenvolvimento de uma personalidade emocionalmente equilibrada.
           Juntando tais fatos às carências de nossas salas de aula, teremos que, de forma específica e intransigente as nossas escolas e suas salas de aula, e de forma mais abrangente o nosso sistema de educação não tem fornecido meios, e menos ainda métodos que levem o sistema educacional brasileiro a suprir as carências das nossas famílias, ‘salvando’ nossos jovens da rigidez corporal, tirando-os de situações onde muitos ficam tempo demais parados, seus corpos inertes clamam por socorro, deixando suas mentes expostas ao descalábrio infame da violência.
           No caso específico de Eloá, temos vários fatos relacionados à área psicológica, mas, o que nos interessa neste momento é claramente o fato do desequilíbrio do sequestrador. Isto ocorre devido a uma série de fatores psicossomáticos, e patogênicos. Lares onde a criança tem bom convívio têm limites bem definidos, vive em harmonia com os componentes de sua família, e têm de todos, respeito, e acima de tudo é querida, crescerá de forma equilibrada, e com toda certeza demonstrará este equilíbrio no seu dia a dia, em suas relações sociais, e intimas, aceitará os bons valores sociais e a eles aderirá com empenho, buscará o seu bem estar, métodos de vida saudáveis. A sociedade ocidental deve refletir bem seu modo de vida, pessoal e em sociedade, para que tais eventos ao menos diminuam.
           A Psicomotricidade tem postulado o seu potencial educador e corretor, não só para a fase da infância, mas também para os adultos e para a terceira idade. Vemos nestes dias onde a micro informática dominou todas as áreas de trabalho e relacionamentos humanos, tornando tudo mais rápido, e impessoal. Estas carências de ‘contato’, de olhar nos olhos um do outro, de tocar as mãos de quem amamos, ou somos amigos tem afetado o comportamento, as atitudes de cada um de nós. E neste contexto, atitudes extremas como estas de Santo André, têm-se multiplicado de forma assustadora. Estamos com nossos corpos enrijecidos de tal forma que mesmo pessoas que antes tinham atividades baseadas no movimento, hoje estão presas á salas fechadas, e não somente as salas e tão fechadas, o Eu interior se fechou, se proibiu vivenciar experiências corporais. A frase de Érica Gomes Pontes resume bem tudo o que é a Psicomotricidade, e tudo o que pode ser para todos nos dias atuais, “é tempo de redescobrir um corpo de possibilidades e abandonar limites impostos por tabus e ideologias que nada mais acrescentam, além de sintomas, dor e sofrimento psíquico”.  
           É exatamente o que vemos nestes dias acontecer, pessoas criadas de forma ‘reprodutora’, e não de uma forma construtiva, seres humanos ‘acabados’ e ‘construídos’ fora de tempo, mal finalizados em seu potencial de realizações, sem o devido diálogo, e carinhos necessários a sua sobrevivência, incapazes de discernir entre realidade e o não real, de pensar na felicidade alheia, e de si mesmo. Mal resolvemos grandes tabus do passado recente, e já criamos outros maiores. Que possamos refletir com seriedade, e sinceridade sobre os fatos educacionais e sociais de nossos dias, e vermos que somos seres humanos, temos de buscar preservar o nosso lar, o planeta terra e sua diversidade, mas, principalmente vermos a necessidade de preservação de nossos jovens, como gerações do futuro, equacionando de forma satisfatória seus dilemas, tornando-os capazes de decisões corretas, mesmo diante de fatos como este da cidade paulista, em que a vida foi o que menos teve importância, quando deveria ser preservada de forma intransigente.
           Esta situação paradoxal da nossa sociedade tem de ser resolvido o mais breve possível. Como educadores devemos ver a Psicomotricidade como excelente ferramenta para auxiliar-nos nos processos de ensino aprendizagem, de transformação de paradigmas existentes, de reeducação corpórea, levando o ser a redescobrir seu corpo, consequentemente o Eu interior suprimido no dia a dia, nas relações da modernidade; promovendo o retorno aos processos valorosos do abraço, do beijo, do toque, da carícia, enfim, da libertação do aparente, do imposto para ser aceito. Nossos corpos gritam. Nossos corpos gritam por socorro, quando é que paramos para ouvir e aceitar seus clamores? Ouçamos estes gritos, e acima de tudo, que possamos ser portadores de audição suficiente para ouvirmos nosso corpo e o de nossos semelhantes.
           A construção social, já nos primórdios da humanidade, sempre foi à base de cooperação mútua entre os seus integrantes, do auxílio, mesmo que em momentos específicos os interesses pessoais fossem mais em consideração, às atividades onde a cooperação era necessária já estavam bem definidas.
           Estas formas de atuação mantiveram o tecido social. E a está época também já tinham avançado muito as relações familiares, onde a afetividade por suas ‘crias’, os cuidados, começavam a construir estes laços que tanta importância tem na vida de cada um ser humano, sem o carinho de uma mãe, sem a justiça e comportamento definido de um pai presente, a criança não difere de um animalzinho, a não ser por sua inteligência e aptidões técnicas, são os laços familiares, o seu ambiente sadio, ou não, que definiram a estrutura sócio - emocional do ser em construção, passando depois de adulto a ser agregador, ou desagregador social. Nestas situações estão com toda certeza envolvidas as questões motoras e psicomotoras de cada um.
           Vemos estes fatos no construto social de hoje, onde o indivíduo sofre grandes pressões, ora da sociedade, ora de cunho afetivo, moldando sua personalidade, construindo um ser que em sua natureza mais remota é ‘inacabado’, vindo deste fato tão simples a necessidade de aperfeiçoamento, daí a mudança que tanto nos fez crescer como seres inteligentes. Hoje erroneamente este ser inacabado, foi obrigado a se tornar “acabado”, aperfeiçoado, em suma, o oposto do ser humano anterior, que era obrigado a transformar para sobreviver.
           Isto no campo da convivência em sociedade, já para o campo afetivo, as condições atuais são avassaladoras. Uma educadora ao falar das atividades Psicomotoras, e mais especificamente, do toque, falava com tamanha ênfase que seduzia, fazia com que todos os que a ouviam sentissem uma vontade latente de mudar o seu curso de vida, isto é a atitude psicomotora, mudança de hábitos errados, de uma vida onde só nos resta seguir nos passos dos que nos antecederam, e fazermos com que venham depois sejam iguais.
O QUE É A PSICOMOTRICIDADE
           Em termos epistemológicos, a Psicomotricidade não encerra só a história dos conceitos do exercício físico, da motricidade e do corpo, convocados para restaurar uma “ordem psíquica perturbada” ou facilitar o “funcionamento do espírito”, mas também, o estudo causal e a análise de condições de adaptação e de aprendizagem que tornam possível o comportamento humano.
            Para uma definição simples, no entanto, não sintética, podemos afirmar que a Psicomotricidade é uma ciência que se ocupa do ser total, mente e corpo. Representando uma importância cada vez maior no desenvolvimento global do individuo em todas suas fases, principalmente por estar articulada com outros campos do conhecimento, como: a Neurologia, Psicologia e Pedagogia, vindas daí sua grande importância para todos os educadores. Isso acontece porque a Psicomotricidade, se preocupando com a relação entre o homem e o seu corpo, considera não só aspectos Psicomotores, mas os aspectos cognitivos e sócio-afetivos que constituem o sujeito. Está importância advêm do fato de estudar o homem e seu corpo em movimento, e suas relações com seu mundo interno e externo.
              Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização


A IMPORTÂNCIA DA PERCEPÇÃO DO PROFESSOR


            O educador dentro da sala de aula deve ter meios, e métodos capazes de observar, apurar, e acima de tudo dirimir situações que propiciem um ensino aprendizagem capaz de educar/ensinar, portanto transcende a lousa, vai muito além das salas de aula, deve transformar. Para muitos transformar pode parecer pretensão, ou até mesmo não ser de sua responsabilidade, o que não é verdade. Temos que olhar para a maioria de nossos educandos de forma afetiva e ‘compromissada’ com sua busca. Para ilustrar com exemplos com exemplos, citaremos o fato de um aluno que jamais se saiu bem com as ciências exatas (física e matemática), quando o professor de física se propõe a auxiliá-lo, dá mais explicações, fornece livros, enfim, vê o seu caso, dá atenção e interessa-se em ajudá-lo, este aluno naquele ano não foi o melhor da turma, não obteve notas dez em todos os bi mestres, mas quando terminou o terceiro já possuía notas suficientes para encerrar o ano nesta matéria (7,0 – 8,0 – 6,5), o que dividindo por quatro já lhe garantiriam no mínimo uma nota cinco, o que era exigido para ser aprovado naquele colégio.
              É neste fato que se encerra a arte educativa, temos de ver o mundo do educando, seus pedidos de socorro, de atenção, todos somos inteligentes o suficiente para buscas, e aquisições, somos capazes de aprender. E neste contexto temos esquecido de que nossos corpos, nossa mente não têm recebido a devida atenção e cuidado. E neste quadro sócio educacional em que vivemos preocupados com os meios, nos esquecemos dos fatos do nosso dia a dia, com nossos alunos, de suas angústias e realidades. Portanto, temos e devemos encurtar as distâncias entre as aquisições educacionais e a realidade vivida por nossas crianças.
              Amor, afeto, Psicomotricidade. Não são em sua etimologia sinônimos, mas em um olhar psicomotor, e do ponto de vista do psicomotricista estão intimamente ligadas, e é delas que embasará a sua atuação e práticas psicomotoras. Trabalhará a afetividade, o amor por cada descoberta feita em seu dia a dia, portanto, afetará e será afetado por seu próprio trabalho. Que possamos em nossas práticas educativas trabalhar a afetividade, o amor, e o carinho pela arte de sermos educadores e educadoras, sem nos permitir esquecer-se do principal ator neste teatro, o educando, suas necessidades e suas buscas.
              O ato educativo não pode, e não se encerra pura e simplesmente nas atividades e no currículo escolar. Quando falamos em educação, temos obrigatoriamente de pensar em seres inacabados, que se renovam dia após dia, constroem e desconstroem, para logo em seguida construírem tudo novamente. Na matriz cognitiva de cada ser existe o dar e receber afeto, e neste fato está constituído o maior diferenciador do ser humano, a afetividade.
              A Psicomotricidade envolve um grande esforço, pois devido ao fato de estar interligada aos processos cognitivos, deveria envolver família, professores e as escolas, para tornar estas questões que em nosso país tem nos envolvido de uma forma avassaladora, famílias sem as referências familiares devidas, pais separados, ou a pior face desta situação que existe por aqui há tanto tempo, o aumento das crianças abandonadas, ou de rua. Nestas décadas que envolveram a solidificação do “new capitalism”, da implantação da globalização, o modo de vida teve mudanças reais, e significativas, e a família teve de se adequar a um novo padrão de valores, e vida. Já na década seguinte ao fim da segunda guerra, com o mundo vivendo sobre a pressão de economias esfaceladas, as questões capitalistas se sobrepõem a qualquer necessidade da vida, ou pior ainda, se sobrepôs á própria família, era o início dos problemas hoje tão evidentes. Para a área da Psicomotricidade era a busca de uma afirmação que ainda estava fundida a psicologia.
              Começa-se a ver que as questões motoras estão ligadas as dificuldades do ensino aprendizagem, o que para alguns teóricos antigos ainda estava claro, devido a está fusão com a Psicologia, que a partir deste momento começa a ser dissolvida, e busca-se um caminho próprio.
              Começa a busca da sua potencialidade na educação. O professor Eugênio Cunha em seu livro Afeto e Aprendizagem – Relação de Amorosidade e Saber na Prática Pedagógica faz exatamente está afirmação, quando relaciona as situações em que falta de afetividade e amor, prejudicam a função educativa, dificultando a tarefa docente. Cabe ressaltar também, o fato das questões aonde este processo já vem da família. Crianças, ou idosos vivendo sem o menor apreço necessário para justificar o querer bem, o interessar-se por uma vida melhor. Portanto, afeto e amor são como verdadeiros ‘fixadores’ do saber, da capacidade cognitiva.
              Em uma classe do projeto de Erradicação do Trabalho Infantil, projeto vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, observamos como as questões afetivas, e sócio afetivas impossibilitam o ensino- aprendizagem. Ao ingressar neste projeto foram logo feitas várias observações a respeito de cada comportamento, de cada dificuldade, de cada situação familiar ali envolvida. E, ao tirar algumas conclusões, pudemos ver que aquelas famílias mais presentes, mais interessadas na vida do filho (a), proporcionavam exatamente o oposto, eram crianças com bom equilíbrio, com autoestima elevada, e com melhores perspectivas de futuro que aquelas que não tinham esta realidade vivida em suas famílias. Para estas crianças até mesmo coisas simples como jogar peteca, movimentos que precisam ter mudanças repentinas de direção para a esquerda, e para a direita, são extremamente difíceis, fazendo com que tais exercícios logo diminuam o seu interesse, tornando as brincadeiras menos atrativas, levando-as a desistência.
              Em determinado momento, introduzimos algumas atividades Psicomotoras de reconhecimento de partes do corpo, e movimentos dirigidos de acordo com cada membro do corpo da criança. Estes movimentos foram elaborados de acordo com pesquisas feitas através de livros e da internet, buscando proporcionar para cada criança um mínimo de coordenação motora. E neste momento ficaram bem evidentes as dificuldades de cada criança, sendo a partir deste momento em que introduzimos não só as atividades Psicomotoras, mas também atividades de afirmação, onde o principal objetivo era elevar a auto-estima de cada educando.
              Neste momento todos foram colocados em um mesmo patamar, e as atividades propostas incluíam todas as crianças, a finalidade da inclusão de todos nesta primeira etapa era situar com bastante certeza quem, e de que forma o trabalho individualizado se daria. Cabe ainda lembrar-se das dificuldades relativas aos principais pontos de atividades motoras, onde todos foram muito mal, mesmo aqueles que não passavam por problemas afetivos.
              Exercícios simples de esquerda e direita foram colocados como atividade de trabalho. Neste momento ficou bem claro que os problemas com grande parte da turma seriam maiores do que se imaginava no início. Mas, seria necessário devido ao fato de nem todos estarem com as mesmas necessidades.
              Desta forma, com todos os casos individualizados, e identificados, percebe-se que grande parte era advinda de fatos sócio-afetivo-emocionais. Ao se deparar com tais fatos, foi percebido que a interligação entre as questões que envolvem as deficiências psicomotoras, e de aprendizagem estão bem próximas umas das outras, se não interligadas.
              E fato é que está interligação não facilita a tarefa docente em nada, pois com sérias deficiências em sua formação de base, o professor (a), não conta com uma formação ampla que lhe dê uma visão geral de tais assuntos. Não tendo o domínio da situação, fica exposto a questões que envolvem desagregação social, e familiar. Neste contexto não consegue cumprir os objetivos da educação, e se expõe em um quadro de violência e indisciplina de seus alunos.
              Nesta turma do projeto de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), vez por outra, tivemos de abdicar de atividades já propostas para o trabalho, para adotarmos hora um posicionamento mais afetivo, hora mais severo com a turma. Para ilustrar bem o que queremos dizer aqui, citaremos uma atividade proposta para o encerramento das atividades com a turma, quando teriam de fazer uma apresentação coreográfica. Ao preparar-se para o inicio da apresentação, uma das meninas afirma o seguinte: “professor se nos vaiarem iremos sair do palco”. Com o que até mesmo d forma severa, o professor não concorda, e afirma para todos que eles não estavam ali como simples alunos, mas como artistas, e se fossem vaiados, deveriam agradecer da mesma forma, pois ambas, vaias e aplausos, fazem parte de qualquer apresentação, naquele momento seus corpos, até aquele momento rígido, se soltaram, fizeram uma ótima apresentação, para logo em seguida receberem inúmeros aplausos.
              A tarefa docente hoje tem por obrigação, se municiar de todos os meios possíveis para ser exercida, correndo o risco de ao não se preparar, inviabilizar sua função precípua, educar, e formar cidadãos.
              Como no caso daqueles alunos com seus corpos rígidos pelo medo, vemos educandos enrijecidos por uma família desagregada, por uma sociedade que exclui que marginaliza. Segundo Le Bouche as dificuldades Psicomotoras acarretam em déficit instrumental predominantemente, podendo acarretar em problemas de comportamento e relacionamento. Quantos casos vemos relacionados a estas afirmações, quantos jovens hoje sucumbiram a este déficit instrumental e a estas dificuldades Psicomotoras.
              Foi exatamente desta forma com que tivemos de trabalhar com as crianças do programa. Uma relação com elas necessariamente teria de envolver atitudes de disciplina comportamental, de postura, tendo que atuar de forma decisiva com todos os problemas que os envolvia. Para exemplificar claramente este fato vamos citar as condições que encontramos, especificamente em relação a uma menina e sua irmã, que obviamente seu nome real será omitido, para este exemplo só a chamaremos de “L”.
              Ao chegarmos ao projeto, nos deparamos com esta criança e os problemas que a cercavam. Para não nos atermos aos fatos vindos de sua família, que não é nossa intenção, só se faz necessária a descrição, pois são os motivadores de seus problemas. Sua mãe é alcoólatra, separada, sendo que seu pai nem mesmo a conhece, seu irmão é envolvido com assaltos e traficantes, espanca a sua mãe, e já estuprou a irmã mais velha. Quando começamos o trabalho com esta turma, buscamos informações com a educadora anterior. No entanto, ao conhecer cada criança, e adolescentes integrantes daquela turma, começamos a focar nossa atenção nos casos de maior gravidade. E o caso de “L”, se mostrou de maior urgência e atenção, devido aos fatos geradores dos transtornos por ela vividos.
              Desenvolvemos um esboço das atitudes a serem trabalhadas com “L”. Dentro das ações, e práticas em sala de aula, acrescentando a afetividade, e a Psicomotricidade, somente tendo a certeza de que o tempo não seria o suficiente para o seu caso. No que ao final das atividades do trabalho no PETI, mostraram uma grande surpresa: “L”, já estava reagindo de forma muito adequada. Para tão pouco tempo de trabalho, sem ter condições de trabalhar seu caso com mais tempo, e especificidade.
              Sua irmã, que chamaremos de “A”, já ofereceu uma resistência maior às mesmas atitudes e trabalhos Psicomotores e afetivos, sua resposta foi mais lenta, e em vários momentos dando a noção que não surtiria um efeito prático desejável.
              Com toda certeza em ambos os casos, tanto o caso Eloá, com um desfecho de violência brutal, como no caso de “L e A”, temos as questões de uma baixa coordenação Psicomotora, e afetividade quase inexistentes. As questões onde se faz necessária uma reeducação Psicomotora, estão bem expressas nos dois casos. Em um, o caso Eloá, o individuo cresce em um ambiente sem limites, sem afeto, enfim, não tem a devida percepção de que na vida amar implica viver e deixar viver, que só se ganha depois de muitas perdas.
              Quanto mais tarde forem verificadas tais situações, mais difícil de ser resolvida será. Fazendo uma crítica dura, mas com toda certeza real, a sociedade brasileira está vivendo o rudimento, já abandonado em sociedades que aderiram as correções Psicomotoras. Em épocas passadas, o ser estava separado de seu corpo de tal forma que não era possível pensar o Sr como o centro das atenções, era a religião, e os clérigos quem sabiam o que era certo ou errado para cada individuo.
              Vós sois templos do espírito santo de Deus. Se tomássemos está afirmação Bíblica, com toda certeza este ser já teria sido liberto muito tempo antes. É com esta visão que devemos ver a Psicomotricidade. Libertadora, que rompe todas as amarras, conforme o texto bíblico citado, em outra parte afirma que “vós sois livres”.
              Partindo deste ponto, em que a Psicomotricidade é libertadora do ser, devemos buscar a liberdade de nossos corpos, do nosso Eu. A nossa sociedade está carente de educadores, e educadoras capazes de buscar, e depois proporcionar aos seus educandos esta liberdade que as atividades Psicomotoras efetivam.
              Juntando em um mesmo eixo de sua prática docente, por um lado afetividade, e em outro as atividades Psicomotoras, o educador com toda certeza estará conduzindo seus alunos à condição de equilíbrio necessária para sua construção cognoscente. Dando-lhe as condições adequadas para fazer por si mesmo, e acima de tudo, ser responsável por tudo que fizer.
              A tragédia de sobreveio àquelas famílias de santo André, com toda certeza se tivessem sido olhadas com afeto, correção, e equilíbrio que tal comportamento exige, teria tido outro desfecho.
              É neste lado da vida, do ser em desequilíbrio, que a Psicomotricidade pode dar uma grande contribuição para sanar problemas na vida da criança, do jovem e de todas as pessoas que em sua infância sofreram um processo de baixa estima, falta de afeto, e teve a parte motora corporal pouco, ou não trabalhada. Atuando de forma decisiva para uma real mudança de postura em relação ao Eu, e ao outro. Auxiliando a família, e, principalmente, os docentes. Ao trabalhar as funções motoras, afetivas e cognitivas, contribuirá para uma mudança de ‘postura’ do ser com o meio onde está inserido.
              A Psicomotricidade tem todas as condições de se tornar em pouco tempo, uma das principais ferramentas em mãos docentes que visem à mudança através do ensino aprendizagem, que busquem não só ensinar, mas transformar através do ensino. Como uma ciência transformadora que é a Psicomotricidade, tem por base de estudo o ser total, como vive, de que forma vive, como se relaciona, aprende e vê o mundo. Seu corpo em movimento é à base de todos os estudos, mas não só, pois ao se interessar por coisas abstratas como o amor, passa a trabalhar com algo mais difícil de ser estudado, e mensurado, pois se trata de um sentimento importante na vida de todos nós, mas não há como estudá-lo, nem prever suas conseqüências, favoráveis ou desfavoráveis.
              Neste primeiro momento, a Psicomotricidade está voltada para as atitudes preventivas, trabalhando um pouco mais com a infância, mas em breve veremos os avanços que esta ‘atividade libertadora’ do ser proporcionará, e sentir-se-á a sua importância para o ser humano em todas as idades e fases da vida.
              A Psicomotricidade vem como ferramenta auxiliar para pediatras, professores de educação física, geriatras, fonoaudiólogos, psicólogos, dentre muitas outras áreas que com toda certeza se beneficiariam de seus métodos. Mas, é com a pedagogia que seus efeitos são mais visíveis, pois ao trabalhar com os problemas de aprendizagem, do comportamento, e das funções cognitivas, efetiva um progresso tão visível, que torna a tarefa educativa mais fácil, agradável e prazerosa, tanto para o educando, quanto para os envolvidos no ensino da criança.
              Segundo o que foi dito por Heráclito, filosofo grego, “tudo caminha, tudo flui, nada está imóvel”. A vida em curso irreversível, jamais retornará ao mesmo ponto de partida, portanto temos de construir bases sólidas, para no futuro termos a sustentação de que precisaremos em nossa vida. Mas a reeducação psicomotora é a única que terá reais condições de reeducar, de erguer e construir as bases frágeis, ou mesmo dar uma sustentação aqueles que não a possuem. E, é nesta capacidade da Psicomotricidade, que a sociedade hoje terá uma esperança de reconstruir as bases familiares e sociais fragilizadas. Dando ao individuo o sentido da vida, que foi perdido por uma educação familiar e escolar ineficientes. Capacitando o ser a ter novamente afeto, capacidade cognitiva, e uma socialização sem as deficiências e carências vista em nossos dias, onde o bem maior, a vida, seja respeitada em sua totalidade. Abandonando as atitudes violentas, os desequilíbrios do corpo e da mente.
              E ao reconstruir a capacidade, e elasticidade de um corpo em inércia, dar qualidade de vida. Em seu livro “Afeto e Aprendizagem, Relação de Morosidade e Saber na Prática Pedagógica”, o autor Eugênio Cunha afirma o seguinte:

Hoje se vive à sombra do que é imposto como sucesso e fracasso, como uma tênue linha onde pode tanto embriagar-se com a ilusão de uma falsa auto-estima que se desfaz no primeiro contra tempo – ou torturar-se com a crueza de uma baixa auto-estima que aprisiona. (CUNHA, p.19)

              Então para ambos os casos, qualidade de vida, educação, e plasticidade corpórea, nos dias vividos na modernidade, são de pouco valor na vida afetiva, emocional e educacional devido ao isolamento dos indivíduos e de suas relações, e se para o individuo adulto é difícil, imaginemos o que se passa no mundo de nossas crianças e adolescentes, com toda certeza teremos gerações com sérias dificuldades relacionais e afetivas.
              Se em todas as religiões o ser humano é a criatura mais importante. Se a filosofia postula a humanidade à soberania em todo o universo. Se, somos a imagem e semelhança do criador para cristãos, judeus e muçulmanos, que em suas escrituras alegam que os nossos corpos são o templo do espírito de Deus, então cuidemos deste “templo” com todo o esmero que for possível, proporcionando saúde, conforto, e acima de tudo uma educação corporal capaz de equilibrar o ser total que somos. 

PALAVRAS CHAVE – Afeto, afetividade, Psicomotricidade e aprendizagem
   
 

Um comentário:

  1. Olá meu caro... fico feliz em saber que de alguma maneira minhas palavras puderam contribuir com seu percursso... abraços carinhosos...
    atenciosamente

    Erica Pontes

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