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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

RESUMO

A violência doméstica tem afetado de forma avassaladora as nossas crianças. O seu desenvolvimento escolar e emocional, criando uma geração muito propensa à violência social. Ao procurar entender o que, e como se dá estes tipos violência contra crianças e adolescentes, em seus próprios lares, onde por convenção deveriam desfrutar de condições propício ao seu bom desenvolvimento sócio emocional, entenderemos parte deste problema tão sério, e difícil de solucionar, principalmente por não existirem medidas únicas, e sim por estarem correlacionados há outros fatos que levam a existência da violência, tais como: o alcoolismo, dependência química. A exposição destas crianças e jovens se dá mais devido ao fato, de que, medidas de combate ao tráfico de drogas, e campanhas contra o uso indiscriminado de bebidas alcoólicas, só fizeram parte de campanhas governamentais a partir da década de 1990. Sendo ainda, a violência gerada do tráfico de drogas, e criminalidade em geral, fatores que deixam as famílias de baixa renda muito expostas a estas formas de violência. Estas populações foram durante muito tempo levadas a viverem quase que marginalizadas. Em consequência seus filhos ficaram expostos há criminalidade. Seus pais também sofreram este processo de marginalização, consequentemente, as famílias formadas daí, tiveram sérios problemas em sua socialização, vindos ocasionar sérios danos sócios emocionais e de aprendizagem escolar.

Palavras–chave: Violência. Infância. Adolescência.


SUMÁRIO


INTRODUÇÃO..................................................................... 8
1 INFLUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO ENSINO................................... 9
1.1 A VIOLÊNCIA ATINGE A CLASSE ALTA E BAIXA...................................... 14
1.2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E A FAMÍLIA................................................ 16
1.3 FAMÍLIA E ESCOLA – INSTITUIÇÕES PARCEIRAS...................................... 18
2 PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA CRIANÇA VÍTIMA..................................... 21
2.1 OS JOGOS NO PROCESSO DE CURA DA VIOLÊNCIA...................................... 26
CONCLUSÃO...................................................................... 28
REFERÊNCIAS.................................................................... 29


INTRODUÇÃO

Este trabalho foi realizado com o objetivo de conhecer as dimensões da violência, denunciar e mostrar casos de violência doméstica que ainda são desconhecidos e que trazem sequelas irreparáveis a muitas crianças. O grande desafio na construção deste texto foi analisar e mostrar que existem muitos tipos de violência que atingem o nosso país. Tanto as grandes cidades quanto o campo.
Está em destaque, neste trabalho, a violência que ocorre no âmbito doméstico, lugar onde deveriam existir plenas condições para o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças; um lugar que convencionou-se chamar de lugar de paz, ou seja, sem perigo.
Os fatores geradores da violência são vários: baixo poder aquisitivo, falta de diálogo entre pais e filhos, desemprego, alcoolismo, dependência química, dentre outros. Estes são analisados aqui, procurando verificar como contribuem para a desestruturação e o desequilíbrio emocional das crianças, ocasionando sérios prejuízos para a aprendizagem.




1 INFLUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO ENSINO


Quando se apresenta a questão da violência, parece pensar-se apenas em um tipo: a específica, a violência física. Ignora-se que ela seja algo que ocorre em muitos espaços e tem várias dimensões, além de poder ser de várias formas.
Na verdade a violência manifesta-se de diversas formas, envolvendo pessoas agressoras e vitímas de idade, sexo, classe social, raça, religião e nacionalidade também diversas. Pode ocorrer dentro da família, contra crianças, jovens, mulheres, idosos e portadores de necessidades especiais. Pode ocorrer na escola. Nas cidades chamamos violência urbana: homicídio, violência no transito, violência ambiental. Mas pode ser detectada no campo e se manifesta, muitas vezes, pelas condições desiguais de posse da terra.
A violência está no mundo com as guerras e atentados terroristas. Está relacionada também ao desemprego, à falta de saúde, à falta de educação, à corrupção, aos baixos salários, à fome, à miséria, à inflação, à falta de habitação, ao quadro de desigualdade social, à falta de projetos econômicos de crescimento e à falta de segurança que, somados, acarretam a violência estrutural e social que rodeia a população brasileira e mundial.
As causas de falta de segurança e da violência são múltiplas e complexas, necessitando de medidas emergenciais por parte do governo, porque ela abrange situações que acontecem em muitos lugares e chegam a nossa consciência com tamanho e valores diferentes. Isso porque, segundo a constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988, art. 227),

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito a vida, à saúde, à alimentação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária de colocá-los a salvo de toda forma negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

A sociedade deixa fragilizadas as pessoas que estão sem emprego, resultando em revolta e o consequente desequilíbrio emocional. Isso é uma das principais causas de geração de conflitos e violência, inclusive doméstica.
A violência, especialmente nas grandes cidades, parece tão entranhada em nosso dia a dia que pensar e agir em função dela deixou de ser um ato circunstancial para transforma-se num ato de sobrevivência. As pessoas vivem amedrontadas e muitas vezes querem morar no interior por ser um lugar tranquilo, com menos tráfico de drogas, assaltos, sequestros, agressões e uma série de outros tipos de violência.
A família e os seus integrantes sofrem este processo (violência), onde nem mesmo as crianças escapam as suas consequências, chegando até mesmo aos recém-nascidos, que para o ECA, é incapaz de se manter, defender-se, e sobreviver só, necessitando, portanto do adulto para suprir suas necessidades. O artigo 5º do Título I das disposições preliminares do ECA Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) anuncia que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ocasião ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
O abuso de poder pode levar o adulto a ser violento com seus próprios filhos, comprometendo os mesmos em seu desenvolvimento cognitivo, interferindo negativamente nas suas produções, na concentração mental, interação e integração com seus colegas, pois a criança se sente como alguém incapaz de expor seus sentimentos. Outras vezes, se torna uma criança agressiva que não sabe receber afeto, mas só bater, porque foi isso que aprendeu em sua casa.
Há, portanto, dimensões da violência que parecem “invisíveis”, pois não as reconhecemos como violência. Parecem coisas naturais, fruto da fatalidade ou destino, como a discriminação contra as pessoas por nacionalidade, origem regional, opção sexual e raça. Em sua maioria são as crianças as principais vítimas da violência doméstica, como foi noticiado pelo Jornal Extra, edição do dia 25 de maio de 2009, à pag.12:

Criança sofria tortura dentro de sua própria casa, os pais foram denunciados pelos vizinhos. A criança apresentava ferimentos pelo corpo e sinais de desnutrição. Segundo a polícia, a criança contou que passava a maior parte do tempo presa no banheiro, não comia direito e apanhava da mãe e do padrasto. Apresentava, também, queimaduras em suas mãos.

Esse tipo de violência doméstica é a forma mais comum de diagnosticar, pois está geralmente associada a uma punição ou disciplina e com frequência se encontra marcas do instrumento utilizado na agressão, tais como cintos, fivelas, cordas, dedos, objetos cortantes, sendo geralmente repetitivas e aumentando de intensidade a cada investida. As lesões mais frequentes são hematomas encontrados simetricamente em regiões como tronco, nádegas e coxas. Podemos encontrar, também, lesões como queimaduras de 1º, 2º, e 3º graus. Estas são muito comuns nas nádegas, mãos e pés. A criança se vê indefesa diante de tal situação.
A criança, quando espancada, frequentemente pode sofrer lesões irreparáveis como traumatismo abdominal e craniano. Essa tem sido a causa de milhares de óbitos infantis. Um terço das internações de crianças nas emergências dos hospitais é por causa da violência doméstica.
A violência física é bastante comum em criança de zero a 6 anos. As fraturas são frequentes, podendo ser únicas, múltiplas, antigas e recentes com idades diferentes de consolidação. Quando acontece de a criança sofrer fraturas de costelas, o médico exige um raios-X completo do esqueleto para detectar outras fraturas já consolidadas. Muitas famílias têm como método de agressão física, um meio e forma de “educar” os seus filhos. Há ações comuns de sacudir, sufocar, queimar, espancar e até mesmo uso de revólver. Esses são métodos classificados como graves de educação dos filhos. Muitas mães acham que um “simples” beslicão, palmada ou um tapinha quando necessário não faz mal a ninguém, não sabendo ela que pode atrapalhar o aprendizado da criança.
A violência psicológica não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes para o resto da vida. Caracteriza-se pela rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições aplicadas exageradamente, ocasionando sequelas irreversíveis. Ela é feita com agressão verbal, ameaças, gestos e posturas agressivas.
O histrionismo é um comportamento caracterizado por colorido, dramático e com notável tendência por buscar atenção. A pessoa histérica conquista seus objetivos através de um comportamento afetado, exagerado, exuberante e por uma representação que varia de acordo com as expectativas da plateia. Usa também do silêncio, isolando-se no quarto, ou recuando-se a não querer incomodar ninguém. São atitudes que as pessoas apresentam de imediato, para conseguir seu objetivo. A pior atitude do histriônico é quando quer fazer tudo com perfeição para mostrar o tamanho da incompetência do outro. A pessoa que apresenta esse perfil tem satisfação em ver alguém ser inferiorizado. Essa situação ocorre muito com os pais.
A violência verbal é manifestada quando agressores verbais dirigem-se a outros membros da família, incluindo momentos quando estes estão na presença de outras pessoas estranhas ao lar, infernizando a vida do outro com questionamentos sem fundamentos e atribuições errôneas do comportamento do outro que, muitas vezes, se cala. O silêncio machuca mais do que se tivesse falado alguma coisa. Nesses casos a arte do agressor está exatamente em demonstrar que tem algo a dizer, mas fica quietinho em seu canto; não se queixa de nada. Também é considerado como violência doméstica o abandono e a negligência quanto a criança, parceiros ou idosos.
As transgressões sexuais são outra forma de violência e acabam acarretando culpa, vergonha e medo na vítima e mesmo nos possíveis denunciantes. Mulheres preferem viver juntas a separadas de seus maridos. Neste caso há uma omissão por parte da mãe quanto à agressão. O abuso sexual é uma situação em que uma criança ou um adolescente é usado para gratificação sexual de adulto ou mesmo de um adolescente mais velho, o que pode incluir desde carícias, manipulação da genitália, mama ou ânus. Também pode ocorrer o “voijeurismo” , uma forma bastante comum de violência contra a criança.
Abuso sexual sem contato físico:
1 - Abuso sexual verbal. Conversas abertas sobre atividades sexuais destinadas a despertar o interesse da criança ou adolescente.
2 - Telefonemas obsenos. A maioria é feita por adultos, especialmente do sexo masculino, podendo gerar ansiedade na criança ou adolescente.
3 – Exibicionismo. A intenção, neste caso, é chocar a vítima. A experiência pode ser assustadora.
4 – Voyerismo. Observação de atos ou orgãos sexuais sem que a vítima perceba.
5 – Pornografia. É uma forma de abuso sexual da criança ou do adolescente, cujo objetivo, muitas vezes, é a obtenção de lucro financeiro. Crianças ou adolescentes de 3 a 17 anos são utilizados no papel de atores, atrizes ou modelos em vídeos, fotografias, gravações ou filmes obscenos.
A prostituição infantil tem sido uma forma de violência muito comum, envolvendo crianças de até 3 anos de idade. Ocasionalmente, pais que vivem em situações miseráveis vendem seus próprios filhos. A questão da prostituição infantil envolve, no Brasil, milhares de crianças e adolescentes vítimas de situação socioeconômica extremamente desigual. Neste caso, também é praticada a violência socioeconômica.
Frequentemente, a 1ª relação sexual de uma criança prostituta é com o próprio pai, aos 10, 11 ou 12 anos. Na maioria das vezes, o pai é o abusador. A criança sofre por maus tratos, carência de alimentação dentro de casa, fazendo com que a mesma se prostitua para levar alimentação para casa, muitas vezes influenciada pela família.
Muitas crianças e adolescentes são vítimas do tráfico de drogas e de armas ou levadas ao exterior, para exploração sexual, também por rede de pedofilia ou de prostituição internacional. Crianças ou adolescentes são mais vulneráveis a esse tipo de abuso; geralmente são de segmentos mais pobres ou os mais marginalizados de um grupo social e sofrem exclusão devido a questão étnicas, religiosas, políticas ou econômicas. Esse tráfico sexual acontece, muitas vezes, com a participação dos pais que tentam garantir a sobrevivência, utilizando-se da maldade ou falsas promessas.

1.1 A VIOLÊNCIA ATINGE A CLASSE ALTA E BAIXA

O Instituto Oswaldo Cruz apresenta pesquisas que vêm demonstrar os “mitos” sobre a violência no Brasil. Podemos atentar para o crescimento das grandes cidades que desenvolveram a violência com maior intensidade, quer seja doméstica ou extra doméstica. As agressões, em suas diversas formas, existem nas diversas camadas sociais.
Esse tipo de violência corrói a sociedade e destrói milhares de brasileiros, necessitando de uma política mais justa de distribuição de renda para satisfação das necessidades básicas da família. Entretanto, a violência doméstica não acontece somente nas camadas populares mais baixas. Encontra-se também nas mais afortunadas, ou seja, nos setores mais elitizados do nosso país e do mundo. Os métodos para solucionar estes problemas são diferentes: uma criança que sofre violência doméstica numa família de pessoas “ricas” ou de poder aquisitivo melhor é levada ao terapeuta, consulta-se psicólogo, enfim, procuram-se alternativas possíveis e viáveis para tratar deste grande problema, ou seja, uma família que possua recursos financeiros terá mais agilidade e rapidez na condução do problema.
Um lugar onde a criança deveria se sentir segura, em sua casa, acontece uma inversão de valores por parte dos seus pais, que na maioria das vezes, é o agressor ou agressora de seus próprios filhos. Segundo a Folha Universal de 29 março, de 2009, à página 16,

O nosso país ficou estarrecido com o caso da menina de 9 anos, no Recife (PE) que engravidou do padrasto, que a estuprava durante 3 anos. Estava grávida de gêmeos. De família pobre, a garota se submeteu a um procedimento que interrompeu uma gestação de 4 meses.

Uma criança que durante todo muito tempo sofreu esse tipo de violência realmente se sente acuada, com medo do padrasto que pode ameaçá-la. Felizmente a mãe acreditou na filha e como responsável pela menina, levou-a para abortar. É preciso lembrar que a violência sexual doméstica é um fenômeno que envolve medo, vergonha e culpa. Por isso mesmo é cercado pelo famoso complô do silêncio.
O professor precisa estar preparado e ter conhecimento das diversas manifestações de violência para ajudar seu aluno e encaminhá-lo ao órgão responsável para tratamento e acompanhamento. Cabe ao professor atitudes humanitárias para com seus alunos, tais como afeto, compaixão, zelo, discrição e amor para com ele e ajudá-lo a superar seus problemas escolares e seculares, na medida do possível, envolvendo-se nas questões que ele conhece e pode resolver, fortalecendo laços fraternos de amor de um para com o outro, na construção do saber e da consciência do outro.
É obrigação de o professor ter um olhar mais humanizado e mais presente ao seu aluno dentro da sala de aula, cuidando dele como se fosse seu filho, seu amigo, para que o mesmo se sinta seguro. Só assim ele poderá observar a mudança de comportamento de seus alunos e aos poucos adquirir sua confiança, para que os mesmos possam relatar o que está acontecendo com eles, ou seja, se estão sofrendo algum tipo de violência. Atualmente os professores alegam que ganham pouco, que estão estressados e isso os torna impacientes, muitas das vezes passando isso para os alunos, prejudicando-os em sua aprendizagem.
Mas o que é ser professor? É ensinar. E ensinar não é educar, não é passar conhecimentos e trocar ideias conjuntas de saberes? O aluno, o amigo e o professor sempre estão se educando no dia-a-dia, na troca de amabilidades, na troca de prazeres de estarem juntos, na troca da alegria no partilhar de dias felizes e tristes e a educação faz parte desse contexto que é a vida e educar é ensinar para um futuro melhor, resultando no processo de desenvolvimento, tornando uma pessoa crítica, contribuindo, assim, para o seu crescimento. Segundo Souza (1995, p. 02),

Muitas crianças que apresentam queixas de mau rendimento escolar encontram-se impedidas de um desempenho intelectual satisfatório. Devido a problemáticas emocionais, muitas vezes relacionados a conflitos familiares não explicitados.

E na elaboração desses conflitos familiares ou individuais podem propiciar a melhoria no rendimento escolar da criança que por sentir vergonha de expor sua situação diante dos colegas é prejudicada, não conseguindo desenvolver seu potencial.

1.2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E A FAMILIA

A violência faz parte do nosso dia-a-dia. Os jornais, a televisão, o rádio, a internet são meios de comunicação que velozmente nos trazem “notícias ruins”, sendo a maioria delas, de violência. Como esta reportagem do Bom Dia Rio, Jornal matutino local da Rede Globo de Televisão, veiculada no dia 17/07/2009 às 7h 15mim.
Dois policiais militares perseguiam um bandido que fugiu para dentro da escola e houve troca de tiros no pátio. Segundo testemunhas, por volta das dozes horas os policiais perseguiam um bandido que fugiu para dentro da escola que fica em Costa Barros. Na escola houve trocas de tiros e desesperos dos alunos nesse dia havia cerca de seiscentos alunos no pátio que participavam de uma festa julina. A policia militar negou que tenham atirado dentro do Ciep e afirmou que faz patrulhamento na área dia e noite, 24 horas.

Casos como esse, infelizmente, infiltraram-se nas nossas escolas, onde não há segurança. Que paramentos usar na escola? o que fazer diante de problemas tão graves dentro e fora da escola, que é um espaço socializado de conhecimento e regras comportamentais? A sociedade é uma noção ampla, de um conjunto maior de pessoas organizadas pelo direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, tanto de alunos como de funcionários e todo o corpo docente.
Todos os aspectos da vida na sociedade estão fundamentados no direito à vida. Mesmo os povos que não usam o direito, as leis, os códigos, são regulados, possuem uma hierarquia social. Hoje há muitas gangues dentro das escolas que amedrontam os próprios alunos e até os professores, que, muitas vezes, por se sentirem ameaçados, se afastam da escola.
Na sala de aula o individualismo impera. Os alunos só pensam em “se dar bem” e não pensam no coletivo. A indisciplina é a tônica na sala de aula. Os alunos estão cada vez mais embrutecidos, mais cínicos e mais desrespeitosos.
O abuso de poder econômico, aliado à certeza da impunidade, é ingrediente “explosivo” que incentiva os adolescentes a não colocarem freios nos seus desejos e a não pensarem nas consequências. Segundo Maldonado (1977, p.35).

Os comportamentos violentos nas ruas são muito reforçados. Jovens fazem parte de gangues. A necessidade de pertencer a um grupo, ser aceito e valorizado, ser admirado, sentir-se seguro e protegido pela estrutura do grupo são fatores que motivam a filiação tanto a grupos socialmente aceitáveis (como por exemplo, os escoteiros), quanto as gangues de grafiteiros ou às que incentivam condutas violentas e envolvimentos com o tráfico de droga e de armas.

A indisciplina e a violência na escola estão relacionadas ao desaparecimento de valores morais, tais como o respeito, a fraternidade, a amizade, a compreensão, a ética e o amor. Ter um carro, uma casa de praia, se relacionar com pessoas que estejam na mídia, ter um bom tênis são valores priorizados pelos jovens, de forma a compor sua imagem e personalidade perante os colegas. Vivemos um mundo de individualidades.
Falar de virtudes, generosidade, humildade, coragem, justiça soa como fora de moda, pertencente há outros tempos. A impressão é a de que tudo está reduzido à lógica do que se denomina neoliberalismo, para a qual a riqueza, ou ter riqueza parece virtude. Essa “glamorização” se dá em detrimento ou banalização dos valores morais públicos (justiça, honestidade, respeito público). Vivemos numa sociedade que incessantemente convida as pessoas a consumirem, sendo o tempo todo incentivado a perseguirem ideias em que o dinheiro, o poder, o sucesso e o prestígio não se separam.

1.3 FAMÍLIA E ESCOLA – INSTIUIÇÕES PARCEIRAS

Cabe à família a tarefa de estruturar o sujeito em sua identificação, individualização e autonomia. Isso vai acontecendo à medida que a criança vive o seu dia-a-dia inserido em um grupo de pessoas que lhe dá carinho, apresenta o funcionamento do mundo, oferece suporte material para suas necessidades, conta histórias, fala sobre coisas e fatos, conversa sobre o que sentem e pensam, ensina a arte da convivência Cada família tem seus hábitos, suas crenças, seus mitos e medos, sua ideologia e seus objetivos.
A forma de construir o cotidiano está relacionada a uma história que começa com os antepassados dos pais e se alonga no dia-a-dia com seus filhos. Dessa forma, a criança percorre um caminho que vai desde a mais completa fragilidade emocional e dependência absoluta de autonomia e indiferença, até a compreensão do mundo real e a possibilidade de reconhecer o mundo intenso.
À medida que as pessoas vão se envolvendo em família, vão reconhecendo e construindo sua história, criando uma nova forma de ser ou continuação da mesma. A família vai mudando para continuar sendo o pilar de sustentação de cada um e cumprir a sua função socializadora de construir. Ao mesmo tempo em que uma criança sabe que faz parte de determinada família por compartilhar o mesmo sobrenome, costume e ideologia, ela se individualiza por perceber-se diferente da mãe, do pai, da avó ou irmão em determinadas peculiaridades que caracterizam o seu ser e o seu papel na família.
A família é um grupo de pessoas que tem uma organização típica, normas, valores, formas de conduta e que compartilham uma série de coisas, fatos, afetividade e emoções, dando suporte umas às outras. Essas pessoas também lutam por diferenciar-se e serem reconhecidas como únicas. Orientam-se mutuamente no sentido de tornarem-se cidadãos e para exercerem seus direitos e seus deveres, tanto na esfera particular e doméstica, quanto na esfera pública.
Todo indivíduo, apesar de pertencer a uma família, tem sua própria história, suas lembranças, suas conquistas, assim como é único o contexto em que esses fatos se desenvolveram e continuam se desenvolvendo, apesar de olhares, leituras e significados diferentes. Segundo Gomes (1988, p.10).

A família é um núcleo, ou um grupo de pessoas, vivendo uma estrutura hierarquizada, que convive com uma proposta de ligação efetiva e duradoura, incluindo uma relação de cuidados entre os adultos e deles para as crianças e idosos que aparecem neste contexto.

Ao reconhecer as qualidades e os defeitos de cada elemento familiar que compõe o campo sócio-afetivo da família, a criança se diferencia caracteriaza-se e se organiza em seu contexto sócio-emocional e cultural. Seria o mesmo que dizer que, pouco a pouco, ela vai assumindo e simbolizando a sua existência mediante a sua própria rotina de vida, mediante a linguagem como organizadora e promotora de interlocução, mediante o desempenho de papéis e de modelos que lhe possibilitarão o amadurecimento e a capacidade de posicionar-se criticamente.
A família, como grupo social, tem seu corpo de normas, impondo deveres e atribuindo direitos aos seus membros. Exigindo de cada um, cooperação, solidariedade, sacrifício, compreensão, tolerância e amparo aos menores, aos idosos e àqueles que não podem trabalhar por algum problema de saúde. É óbvio que a socialização não ocorre somente no âmbito familiar.
A tarefa de construir valores e comportamentos era exclusivamente da família. Hoje, as crianças vão cedo para as creches, berçários e pré-escolas. A escola é uma instituição potencialmente socializadora. Ela abre um espaço para que os aprendizes construam novos conhecimentos, dividam seus universos pessoais, ampliem seus ângulos de visão. É emoção e razão que se fundem em busca de sabedoria.
A escola de hoje pretende desenvolver, no estudante, uma conduta própria que viabilize o conhecimento e não mais apenas acumulá-lo. A atitude dos profissionais da escola está pautada no conhecimento de onde encontrar as informações adequadas, para aquela comunidade, voltada a uma metodologia que deve transformar em aprendizagem as vastas experiências sociais. Existe, na sala de aula, uma relação de troca entre professor e aluno, onde quem ensina aprende e vice-versa. Não basta o professor desejar que o aluno aprenda. O aluno precisa desejar aprender, sentir prazer em apropriar-se de sua autonomia. É uma via de mão dupla. Aprendente e ensinante tem a responsabilidade compartilhada no ato de aprender. Com o que concorda SOUZA (1995, p. 2), que diz:

Muitas crianças que apresentam queixa de mau rendimento escolar encontram-se impedidas de um desempenho intelectual satisfatório devido a problemáticas emocionais, muitas vezes relacionadas a conflitos familiares não explicitados, e na elaboração desses conflitos (familiares ou individuais) propiciam a melhora no rendimento escolar.

O filho, quando se sente pressionado em seu próprio lar, não tendo espaço para diálogo com os pais, tende a se fechar, porque quando abre a boca para falar é recriminado. Isso pode prejudicar e muito o seu rendimento escolar, pois se sente reprimido. Tanto a escola quanto a família educa para que o sujeito, em posse de instrumentos sociais, possa ser educado e feliz. Para aprender, uma criança precisa estar em contato com suas possibilidades, com seus limites, reconhecer os próprios desejos e estar disponível para uma aventura; aventura essa de desvendar o mundo.


2 PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA CRIANÇA VÍTIMA


À escola de hoje cabe oferecer suporte e espaço adequado ao aprendente. Ao professor cabe ter a capacidade de observação e sensibilidade capaz de atentar aos problemas que afligem seus educandos, dando-lhes o suporte à sua superação e, quando necessário, encaminhando-os a profissionais suficientemente capacitados para ajudá-los.
O desempenho escolar da criança deve ser analisado considerando-se não apenas suas características pessoais, mas também seu ambiente familiar e seu comportamento no ambiente escolar. No âmbito da aprendizagem, a interação desses fatores pode contribuir tanto para o sucesso como para o fracasso. O baixo rendimento escolar deve ser atribuído não só às características individuais, mas também do contexto familiar, escolar e social.
A escola tem um papel fundamental no processo de desenvolvimento da criança em geral e da vítima de violência em particular. Isso porque precisa desenvolver nela sentimentos de otimismo e um relacionamento seguro e positivo com adultos e com seus colegas.
Muitas vezes a criança verbaliza seu drama. Quando sofre violência, tem muita dificuldade de entrosamento com os colegas, se acha a “pior da turma” devido ao baixo grau de autoestima, sente-se incapaz o tempo todo, nunca age positivamente, é imatura, fica sempre arredia, seu amor é inconstante e está sempre sobressaltada. Nas brincadeiras, se comporta de forma agressiva.
O professor, como especialista da educação, possui em suas mãos a ferramenta necessária para a construção e reconstrução dos alunos que sofrem de violência. Ele, com sua vivência didática, saberá integrar o aluno na sala de aula, proporcionando-lhe um ambiente propício para o exercício da cidadania.
O professor deve trabalhar as crianças que sofrem “violência”, respeitando a forma, a capacidade e a evolução de cada um respeitando suas limitações, ensinando ao grupo a se ajudar, tanto individualmente quanto coletivamente, usando uma metodologia e um processo de aprendizagem baseados no construtivismo, onde o aluno é o construtor de seu conhecimento, usando seus dons, talentos, habilidades e competências. Freire (1975, p.78) afirma que:

Toda prática educativa demanda a existência de sujeitos, um que ensinando aprende, outro que aprendendo, ensina, daí o cunho gnosiológico de objetos conteúdos a serem ensinados e aprendidos, evolve o uso de métodos, de técnicas, de matérias, implica em função de seu caráter diretivo, objetivo, sonhos, utopias e ideais.

Durante muito tempo o aprender foi visto como sinônimo de memorizar. Esta concepção de aprendizagem justificava a organização de uma escola cuja função primordial consistia no repasse do maior número de informações possíveis aos alunos. Acreditava-se que juntando as pequenas partes, os alunos seriam capazes de compreender o todo. Esta concepção de aprendizagem influenciou a educação durante séculos, criando uma pedagogia repetitiva e da “decoreba”, criando um caráter superficial na educação, baseando-se na repetição dos livros em detrimento de um saber crítico, avaliativo e consistente do aluno.
Frobel (1782-1852) era contra métodos mecânicos e padronizados de aprendizagem e até hoje são usados nas instituições pré-escolares. Sua proposta educacional baseava-se nas atividades que incluíam o jogo e atividades de operação entendidas como origens da atividade mental. Frobel partia também da intuição e da ideia de espontaneidade infantil, preconizando uma autoeducação pelo jogo, por suas vantagens morais, além de seu valor físico.
A obra de Montessori (1867-1952), como ela mesma proclamava, inscreve-se e está inserida numa pedagogia científica, que baseada numa formação pelas ciências da natureza explica, a concepção de que a educação deve inspirar-se na natureza e nas leis de desenvolvimento infantil, abolindo os hábitos tradicionais de uma educação tradicionalista. Maria Montessori enfatizou o aspecto biológico do crescimento e do desenvolvimento infantil, criou materiais adequados para a exploração sensorial das crianças, específicos a cada objetivo educacional.
Diminuiu o tamanho do mobiliário usado pelas crianças na pré-escola e criou também a diminuição dos brinquedos e objetos domésticos e cotidianos a serem usados para brincar. Efetuou, portanto, a naturalização dos brinquedos, adequando-os ao tamanho das crianças.
Segundo Montessori, a educação deve inspirar-se na natureza e nas leis de desenvolvimento infantil, à margem dos hábitos tradicionais, porque seu sistema fundamental é mais de desenvolvimento do que de adaptação. Para essa autora, a vida não é abstração e sim vitalidade (Nova Escola, 2009). Portanto, sua filosofia é vitalista; pressupõe que as crianças são corpos que crescem e almas que se desenvolvem, necessitando de uma vida potencial que as desenvolva e que as torne ativas e felizes. Além de ser médica, Montessori era também formada em pedagogia, psicologia e antropologia, tendo um grande conhecimento da alma humana.
O principio básico de seu sistema é liberdade, atividade e individualidade. A pedagogia Montessoriana requer um novo paradigma de educação, pois o educador deve observar e orientar as atividades psíquicas do seu crescimento biológico e psicológico. O professor deve estabelecer as atividades espontâneas na criança, contribuindo para que ela desenvolva sua autonomia, sua individualidade e passe a respeitar seus semelhantes.
A escola, Instituição Social delegada da família, deve estar comprometida com a promoção do desenvolvimento humano e com o atendimento das necessidades da sociedade. Assim, o seu processo de gestão de ensino deve ter uma visão global e uma ação local, visando a inserção contextualizada do aluno em todas as suas dimensões, no mundo moderno, de forma autônoma e participativa, numa nova tomada de consciência do professor em relação a ele mesmo e ao aluno, sendo necessário um olhar profundo e observador da maneira como o professor se comporta, transmitindo uma didática viva, contagiante, que modifique as pessoas que estejam ao redor.
A escola é uma instituição que possui o dom de “moldar” o caráter das pessoas porque ensina a criança, desde pequena, a se comportar como cidadã. Nela desenvolve conceitos fundamentais como respeito próprio, solidariedade, amor ao próximo, dignidade, lealdade e, principalmente, as noções de direitos e deveres. A escola, como espaço de socialização, exerce uma importante função através do diálogo, dando voz às pessoas para que elas dialoguem e expressem suas opiniões, suas vontades e seus anseios.
A educação transforma as pessoas porque preserva, em seu processo, a liberdade de opiniões e a gentileza em suas ações. Por isso é que ela não só transforma, como faz das pessoas seres melhores para si e para a sociedade, como poderá modificar os reprodutores de atitudes violentas, transformando sua agressividade em equilíbrio, pois uma pessoa equilibrada pensa, pondera, questiona e age com harmonia, tranquilidade e pacificidade.
O professor deve criar métodos de aprendizagem para motivar o aluno, voltados para o real interesse dos mesmos, tornando-os agentes do processo educacional, propondo atividades em jogos criativos como uma das saídas viáveis para uma maior integração entre as pessoas, contribuindo para o desenvolvimento da aprendizagem.
O brinquedo é um convite ao brincar e o brincar é a oportunidade mais harmoniosa e completa do desenvolvimento de que o ser humano dispõe. O brinquedo estimula a curiosidade, a iniciativa e a autoconfiança. O brincar é um dom natural que, bem cultivado, contribuirá para a eficiência e o equilíbrio do adulto. O brinquedo traduz o real para a linguagem infantil, suavizando seu impacto e servindo de intermediário para que a criança consiga integrar-se, compreender e desenvolver suas potencialidades de maneira criativa.
Ao brincar com amigos a criança aprende a conviver, procurando regras e limites, aumentando sua resistência a frustrações. A integração lúdica, especialmente em jogos grupais, vão construindo a sociabilidade infantil, desenvolvendo a atenção e a concentração, pois leva a criança a absorver nos grupos as normas sociais e grupais para engajar-se na vida de sua comunidade de uma maneira saudável e criativa.
A criança brinca e joga para dominar angústias e controlar impulsos, assimilando emoções e sensações para tirar provas do eu, estabelecendo contatos sociais, compreendendo o meio, satisfazendo desejos, desenvolvendo habilidades, conhecimentos e criatividade. Isso quer dizer que quando jogamos, brincamos brincadeiras antigas ou tradicionais e ensinamos a outros, estamos reportando a nossos antepassados e nos ensinamentos que nos deram senso de continuidade, permanência e pertencimento.
Através da nossa história e de nossa cultura, a brincadeira e o jogo geram atividades que fazem pensar, onde as crianças aprendem a desenvolver o raciocínio, pois a atividade lúdica pressupõe ações, provocando a cooperação e a articulação, estimulando a representação de vários papéis desempenhados por eles mesmos. As interações entre crianças favorecem a superação do egocentrismo, desenvolvendo a solidariedade e a empatia no compartilhar.
O brincar e suas interações na escola possibilitam a aprendizagem cognitiva do aluno. Na brincadeira a criança interage com o outro, constrói sua identidade, desenvolvendo a cidadania, o respeito pelos colegas, aprende a esperar a vez, exercitando a convivência pacífica do repartir. As brincadeiras desenvolvem a criatividade das crianças, estimulando sua imaginação e o ludicismo. Brinquedos como escorrega, balanço e gangorra são brinquedos que fazem as interações, tão necessárias no dia-a-dia, no desenvolvimento físico, motor e cognitivo das crianças. Os brinquedos convidam as crianças a entrarem no mundo da fantasia e do faz de conta. Um brinquedo pedagógico interfere no desenvolvimento da criança, na sua autonomia e no seu conhecimento.

2.1 OS JOGOS NO PROCESSO DE CURA DA VIOLÊNCIA

Para Piaget (1979), os jogos dividem-se em jogos de exercícios, simbólico e de regras, além dos jogos de construção presentes ao longo do desenvolvimento. A finalidade dos jogos de exercícios é o próprio prazer do funcionamento. Os jogos simbólicos têm como função a compensação de desejos e a liquidação dos conflitos e expressam-se no “faz de conta” e na ficção. Os jogos de regras são aqueles cuja regularidade é imposta pelo grupo, resultado da organização coletiva das atividades lúdicas.
Nos jogos de cooperação e de grupo, as crianças brincam juntas porque já possuem objetivos comuns. O brincar e o brinquedo possibilitam a atividade mental, social, física, emocional e psíquica das crianças. Através da observação o educador compreende o que precisa trabalhar no seu aluno na sala de aula. A brincadeira é uma das maiores ferramentas de trabalho, pois a criança ao brincar está livre de qualquer receio, temores ou problemas, pois na brincadeira ela se solta e interage com seus colegas, voltando a ser “criança” novamente, mesmo que seja desfrutando de um breve período de alegria.
O brincar é muito importante nas relações sociais. A brincadeira produz amizade, camaradagem, compreensão, gentileza e outros sentimentos de socialização do ser humano. Sua prática promove o exercício frequente do amor e da fraternidade.
O educador precisa resgatar os alunos vítimas de violência. Aliada à brincadeira, a arte é um importante fator nesse resgate.
A arte trabalha a Geografia, a História, a agricultura, as formas, as cores, as texturas e a geometria. É através dela que o educador pode realizar um trabalho onde possa ensinar esses alunos a descobrir, a ter novos olhares e posturas de novos comportamentos, usando a sensibilidade, a gentileza, a compreensão e o amor na sala de aula.
O professor pode, por meio de seus atos e atitudes, transformar os alunos vítimas de violência, utilizando um olhar pedagógico e mágico, permitindo que a sala de aula se transforme em um ambiente acolhedor e prazeroso de estar e aprender. Aprendendo a escolher o que é necessário e a distinguir, diante das imagens que rodeiam o nosso dia-a-dia, o que pode ser útil ao ser e ao viver em paz.


CONCLUSÃO


É preciso que as pessoas não se omitam diante da violência doméstica, denunciando-a aos órgãos competentes para que os mesmos tomem as providências cabíveis. Cabe ao poder público contribuir para ajudar crianças e jovens vítimas de violência, elaborando programas de prevenção e combate à violência doméstica, criando canais públicos de denúncia.
A questão da violência não deve interessar apenas aos profissionais nela envolvidos (policiais, advogados, promotores de justiça e magistrados), mas também a todas as pessoas e, principalmente, aos educadores e à sociedade como um todo. É de grande urgência que a sociedade “desperte” para essa questão, pois o elevadíssimo grau de violência assola e esfacela a humanidade.
A violência banalizou-se entre nós. Podemos ver na educação a saída para a temática da violência humana. Sua proposta é formar crianças e jovens para serem construtores ativos da sociedade na qual vivem e exerce sua cidadania, independente da sua condição. É preciso que os educadores estejam preparados, obtendo maiores esclarecimentos sobre a violência doméstica, para que possam ajudar seu aluno, analisando o fracasso ou o sucesso escolar do mesmo, inclusive daquele que possivelmente sofra violência no ambiente familiar, considerando não apenas suas características pessoais, mas também o contexto familiar. Interagindo com os familiares, poderá promover a igualdade e a proteção à criança vítima de violência doméstica.


REFERÊNCIAS


ARROYO, M. G. Trabalho – Educação e Teoria Pedagógica. In: Gaudêncio Frigotto (org.) Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, (Coleção estudos culturais em educação).
BRADEN, N. Autoestima e seus pilares. São Paulo: Saraiva, 2000.
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______. Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990.
DOLTO, F. Quando surge a criança. Campinas/SP: Papirus, 1996.
FERNADEZ, Alicia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artmed. 1990.
FOLHA UNIVERSAL Rio de Janeiro: Arca universal, 29 de março de 2009..
FREIRE, Paulo. Fazer a escola conhecendo a vida. Campinas: São Paulo, 1995.
GOMES, H.S.R. Um estudo sobre o significado da família. Tese de Doutorado. PUC. São Paulo, 1988.
JORNAL EXTRA, Rio de Janeiro: Globo, 25 de maio de 2009.
MALDONADO. M.T Os construtores da paz Caminhos da prevenção da violência. São Paulo: Moderna. 1977.
NOVA ESCOLA, Edição especial n°41, Os grandes pensadores. São Paulo, editora abril, julho 2009.
PIAGET. J. A noção de tempo na criança. Rio de Janeiro: Record, 1979
SANTOMÉ. J. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artmed, 1988.
SOUZA, Audruz Setton Lopes. Pensando a inspiração intelectual: perspectiva-psicanalítica e proposta diagnóstica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.
TV GLOBO. Bom dia Rio, 17/07/09 07h15min da manhã.

Trabalho de conclusão de curso de Pedagogia, apresentado por Rosane Areas à FACNEC - Faculdade Cenecista de Itaboraí

sábado, 3 de julho de 2010

PSICOMOTRICIDADE: AFETIVIDADE E EMOÇÃO



           A criança ao nascer sai de um ambiente protegido, para viver em outro que nestes primeiros dias lhe é hostil. Frio, alimentar-se por si mesma, são fatos novos em sua breve vida. Na vida intra-uterina o corpo de mãe, e o dela (criança) vive em perfeita simbiose, alimento só o que vinha via cordão umbilical, frio, jamais era por ela sentido, pois a temperatura no útero de sua mãe era exatamente adequada as suas condições de vida.
           Ao perder está simbiose, vem à necessidade de um olhar, um toque, uma carícia, em seus primeiros anos de vida esta relação será de vital importância para suas aquisições intelectuais, psíquicas, e sócio afetivo. O viver com sua mãe, com seus familiares será de grande importância para um crescimento em equilíbrio. Todos nós em nossos primeiros anos de vida tivemos estas necessidades, os nossos processos afetivo-emocionais com toda certeza tem no afeto materno-familiar sua base de sustentação.
           Uma criança que cresça em um ambiente de afetividade, correção, e acima de tudo justiça, terá melhores condições de ser equilibrada emocionalmente em sua vida adulta. Segundo as informações de Teresa Cristina Serra Damiano Borghi, divulgada no site da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, a Psicomotricidade é de vital importância para não somente a infância, mas, também na velhice acrescentar melhor qualidade de vida.

Hoje tem uma nova cara, pois passou a ter importância à qualidade de sua vida quando se está na velhice, não só no aspecto financeiro, mas também a preservação de seus potenciais cognitivos, competência social e mobilidade motora compreendendo que estes fatores influenciam sua saúde.

           O estilo de vida da pós-modernidade, com suas necessidades, e uma busca incessante por melhores condições econômicas, tem colocado as gerações do pós- modernismo em uma situação de ‘necessidades extremas’, isto tudo posto, vemos florescer hábitos e costumes que antes eram ignorados e rejeitados. A afetividade familiar, um modo de vida com mais movimentos, mais atividades físicas foram colocados de lado. As crianças que antigamente brincavam de rodinha, de queimado, pique esconde dentre outras brincadeiras que exigiam movimento, mais atividade física foram colocados de lado por telas de um vídeo game, internet e jogos de computador, que deixam seus jogadores inertes sem o menor movimento, além de consumo de calorias que não serão gastas.
           Está situação onde o ser está interagindo de forma impessoal, sem o menor contato, sem esforço, tirou de nossos jovens a chance de conviver com as diferenças, com situações de perda, e acima de tudo de aceitar estas perdas. São inegáveis as facilidades trazidas com a computação, com os apetrechos modernos, que facilitam e muito a nossa vida, e as relações humanas, só há de se ressaltar os danos da não preparação para tal advento, e os efeitos negativos sanados. Vemos hoje que, esta geração (entre 10 e 25 anos) está reagindo de forma bem atípica as carências trazidas por tais tecnologias, mesmo as situações que envolviam o bulling, antigamente eram resolvidas de uma forma mais equilibrada que hoje, o contato pessoa a pessoa ajudava a se dissipar qualquer eventual retaliação violenta. Segundo os profissionais da saúde, dentre vários fatores para uma boa saúde mental está o respeito, o cuidado por si mesmo, pelos outros e pelo planeta, além de ter doses elevadas de amor pela natureza (incluindo aqui os animais e a vegetação).
           O cuidar é um ato consciente, aprendido no dia a dia e no convívio junto com outras pessoas com a mesma finalidade, e nestes atos estão os principais geradores de prazer e contentamento que o mundo conhece; portanto, a forma de educar, de conviver e viver influencia de forma direta, total e definitiva o sujeito. O que vemos com a mudança no seio das famílias, o isolamento proporcionado pela tecnologia, à falta de limites e valores entre os jovens, é que a sociedade está convivendo com situações claras de falta de afetividade, de carinho e de amor. Segundo Érica Gomes Pontes, a internet propiciou uma ligação imediata entre inúmeros sujeitos, no entanto, as relações que ali se estabeleceram são fictícias, um engodo para os que se utilizam dela, pois continuam em grande isolamento, em uma individualidade perigosa. E reitera afirmando que no dia a dia esquecemo-nos do prazer existente no toque.
           As questões psicomotoras estão intrinsecamente relacionadas à afetividade do sujeito, um ser que em sua infância tenha tido em sua criação o carinho, a afetividade de entes queridos, crescerá sabendo de sua importância como ser humano que é de suas responsabilidades como ser social, e que vive em uma sociedade, se portara com respeito aos seres viventes, as várias formas de vida existentes, e principalmente ao ser humano como seu igual. Segundo Amanda Cabral Goretti a “relação entre o homem e o seu corpo, considera não só aspectos psicomotores, mas os aspectos cognitivos e sócio-afetivos que constituem o sujeito”.
           É neste ponto em que quero fazer um breve comentário sobre o trágico desfecho do caso Eloá, observando as situações descritas pelos órgãos de imprensa no decorrer, e no pós sequestro. Vimos ao longo do caso à inabilidade do sequestrador – cabe aqui comentar que no Brasil ainda é muito comum casos, apesar de já estar bem reduzido, de crimes passionais, por ciúme, ou traição – que não se conformando com a separação de sua namorada Eloá, ameaço-a por muitas vezes devido ao fim do namoro, culminando com todo o desfecho já de todos conhecidos pelas reportagens jornalísticas.
           Nesta situação fica bem evidente a falta de um lar onde, a questão certa errado estivesse bem clara, e trabalhadas. Também a afetividade foi pobre, pois, demonstrou este jovem ter sérios distúrbios evidenciados com a perda. “Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo” (GORETTI, CEPAGIA – Centro de Estudo Pesquisa e Atendimento Global da Infância e Adolescência). Portanto, neste caso, como em tantos outros de nossos dias, vemos a falta do toque, do contato, e da afetividade influenciando de forma efetiva o comportamento do sujeito, de suas ações, e enrijecendo o ser ao ponto de torná-lo capaz de atitudes até aquele momento inconcebíveis, e impensáveis. É com estas relações, que todos nós nos tornamos mais humanos, aprendendo a conviver com as situações de perda, mas, para que estas ocorram é preciso se estabelecer os limites adequados ao desenvolvimento de uma personalidade emocionalmente equilibrada.
           Juntando tais fatos às carências de nossas salas de aula, teremos que, de forma específica e intransigente as nossas escolas e suas salas de aula, e de forma mais abrangente o nosso sistema de educação não tem fornecido meios, e menos ainda métodos que levem o sistema educacional brasileiro a suprir as carências das nossas famílias, ‘salvando’ nossos jovens da rigidez corporal, tirando-os de situações onde muitos ficam tempo demais parados, seus corpos inertes clamam por socorro, deixando suas mentes expostas ao descalábrio infame da violência.
           No caso específico de Eloá, temos vários fatos relacionados à área psicológica, mas, o que nos interessa neste momento é claramente o fato do desequilíbrio do sequestrador. Isto ocorre devido a uma série de fatores psicossomáticos, e patogênicos. Lares onde a criança tem bom convívio têm limites bem definidos, vive em harmonia com os componentes de sua família, e têm de todos, respeito, e acima de tudo é querida, crescerá de forma equilibrada, e com toda certeza demonstrará este equilíbrio no seu dia a dia, em suas relações sociais, e intimas, aceitará os bons valores sociais e a eles aderirá com empenho, buscará o seu bem estar, métodos de vida saudáveis. A sociedade ocidental deve refletir bem seu modo de vida, pessoal e em sociedade, para que tais eventos ao menos diminuam.
           A Psicomotricidade tem postulado o seu potencial educador e corretor, não só para a fase da infância, mas também para os adultos e para a terceira idade. Vemos nestes dias onde a micro informática dominou todas as áreas de trabalho e relacionamentos humanos, tornando tudo mais rápido, e impessoal. Estas carências de ‘contato’, de olhar nos olhos um do outro, de tocar as mãos de quem amamos, ou somos amigos tem afetado o comportamento, as atitudes de cada um de nós. E neste contexto, atitudes extremas como estas de Santo André, têm-se multiplicado de forma assustadora. Estamos com nossos corpos enrijecidos de tal forma que mesmo pessoas que antes tinham atividades baseadas no movimento, hoje estão presas á salas fechadas, e não somente as salas e tão fechadas, o Eu interior se fechou, se proibiu vivenciar experiências corporais. A frase de Érica Gomes Pontes resume bem tudo o que é a Psicomotricidade, e tudo o que pode ser para todos nos dias atuais, “é tempo de redescobrir um corpo de possibilidades e abandonar limites impostos por tabus e ideologias que nada mais acrescentam, além de sintomas, dor e sofrimento psíquico”.  
           É exatamente o que vemos nestes dias acontecer, pessoas criadas de forma ‘reprodutora’, e não de uma forma construtiva, seres humanos ‘acabados’ e ‘construídos’ fora de tempo, mal finalizados em seu potencial de realizações, sem o devido diálogo, e carinhos necessários a sua sobrevivência, incapazes de discernir entre realidade e o não real, de pensar na felicidade alheia, e de si mesmo. Mal resolvemos grandes tabus do passado recente, e já criamos outros maiores. Que possamos refletir com seriedade, e sinceridade sobre os fatos educacionais e sociais de nossos dias, e vermos que somos seres humanos, temos de buscar preservar o nosso lar, o planeta terra e sua diversidade, mas, principalmente vermos a necessidade de preservação de nossos jovens, como gerações do futuro, equacionando de forma satisfatória seus dilemas, tornando-os capazes de decisões corretas, mesmo diante de fatos como este da cidade paulista, em que a vida foi o que menos teve importância, quando deveria ser preservada de forma intransigente.
           Esta situação paradoxal da nossa sociedade tem de ser resolvido o mais breve possível. Como educadores devemos ver a Psicomotricidade como excelente ferramenta para auxiliar-nos nos processos de ensino aprendizagem, de transformação de paradigmas existentes, de reeducação corpórea, levando o ser a redescobrir seu corpo, consequentemente o Eu interior suprimido no dia a dia, nas relações da modernidade; promovendo o retorno aos processos valorosos do abraço, do beijo, do toque, da carícia, enfim, da libertação do aparente, do imposto para ser aceito. Nossos corpos gritam. Nossos corpos gritam por socorro, quando é que paramos para ouvir e aceitar seus clamores? Ouçamos estes gritos, e acima de tudo, que possamos ser portadores de audição suficiente para ouvirmos nosso corpo e o de nossos semelhantes.
           A construção social, já nos primórdios da humanidade, sempre foi à base de cooperação mútua entre os seus integrantes, do auxílio, mesmo que em momentos específicos os interesses pessoais fossem mais em consideração, às atividades onde a cooperação era necessária já estavam bem definidas.
           Estas formas de atuação mantiveram o tecido social. E a está época também já tinham avançado muito as relações familiares, onde a afetividade por suas ‘crias’, os cuidados, começavam a construir estes laços que tanta importância tem na vida de cada um ser humano, sem o carinho de uma mãe, sem a justiça e comportamento definido de um pai presente, a criança não difere de um animalzinho, a não ser por sua inteligência e aptidões técnicas, são os laços familiares, o seu ambiente sadio, ou não, que definiram a estrutura sócio - emocional do ser em construção, passando depois de adulto a ser agregador, ou desagregador social. Nestas situações estão com toda certeza envolvidas as questões motoras e psicomotoras de cada um.
           Vemos estes fatos no construto social de hoje, onde o indivíduo sofre grandes pressões, ora da sociedade, ora de cunho afetivo, moldando sua personalidade, construindo um ser que em sua natureza mais remota é ‘inacabado’, vindo deste fato tão simples a necessidade de aperfeiçoamento, daí a mudança que tanto nos fez crescer como seres inteligentes. Hoje erroneamente este ser inacabado, foi obrigado a se tornar “acabado”, aperfeiçoado, em suma, o oposto do ser humano anterior, que era obrigado a transformar para sobreviver.
           Isto no campo da convivência em sociedade, já para o campo afetivo, as condições atuais são avassaladoras. Uma educadora ao falar das atividades Psicomotoras, e mais especificamente, do toque, falava com tamanha ênfase que seduzia, fazia com que todos os que a ouviam sentissem uma vontade latente de mudar o seu curso de vida, isto é a atitude psicomotora, mudança de hábitos errados, de uma vida onde só nos resta seguir nos passos dos que nos antecederam, e fazermos com que venham depois sejam iguais.
O QUE É A PSICOMOTRICIDADE
           Em termos epistemológicos, a Psicomotricidade não encerra só a história dos conceitos do exercício físico, da motricidade e do corpo, convocados para restaurar uma “ordem psíquica perturbada” ou facilitar o “funcionamento do espírito”, mas também, o estudo causal e a análise de condições de adaptação e de aprendizagem que tornam possível o comportamento humano.
            Para uma definição simples, no entanto, não sintética, podemos afirmar que a Psicomotricidade é uma ciência que se ocupa do ser total, mente e corpo. Representando uma importância cada vez maior no desenvolvimento global do individuo em todas suas fases, principalmente por estar articulada com outros campos do conhecimento, como: a Neurologia, Psicologia e Pedagogia, vindas daí sua grande importância para todos os educadores. Isso acontece porque a Psicomotricidade, se preocupando com a relação entre o homem e o seu corpo, considera não só aspectos Psicomotores, mas os aspectos cognitivos e sócio-afetivos que constituem o sujeito. Está importância advêm do fato de estudar o homem e seu corpo em movimento, e suas relações com seu mundo interno e externo.
              Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização


A IMPORTÂNCIA DA PERCEPÇÃO DO PROFESSOR


            O educador dentro da sala de aula deve ter meios, e métodos capazes de observar, apurar, e acima de tudo dirimir situações que propiciem um ensino aprendizagem capaz de educar/ensinar, portanto transcende a lousa, vai muito além das salas de aula, deve transformar. Para muitos transformar pode parecer pretensão, ou até mesmo não ser de sua responsabilidade, o que não é verdade. Temos que olhar para a maioria de nossos educandos de forma afetiva e ‘compromissada’ com sua busca. Para ilustrar com exemplos com exemplos, citaremos o fato de um aluno que jamais se saiu bem com as ciências exatas (física e matemática), quando o professor de física se propõe a auxiliá-lo, dá mais explicações, fornece livros, enfim, vê o seu caso, dá atenção e interessa-se em ajudá-lo, este aluno naquele ano não foi o melhor da turma, não obteve notas dez em todos os bi mestres, mas quando terminou o terceiro já possuía notas suficientes para encerrar o ano nesta matéria (7,0 – 8,0 – 6,5), o que dividindo por quatro já lhe garantiriam no mínimo uma nota cinco, o que era exigido para ser aprovado naquele colégio.
              É neste fato que se encerra a arte educativa, temos de ver o mundo do educando, seus pedidos de socorro, de atenção, todos somos inteligentes o suficiente para buscas, e aquisições, somos capazes de aprender. E neste contexto temos esquecido de que nossos corpos, nossa mente não têm recebido a devida atenção e cuidado. E neste quadro sócio educacional em que vivemos preocupados com os meios, nos esquecemos dos fatos do nosso dia a dia, com nossos alunos, de suas angústias e realidades. Portanto, temos e devemos encurtar as distâncias entre as aquisições educacionais e a realidade vivida por nossas crianças.
              Amor, afeto, Psicomotricidade. Não são em sua etimologia sinônimos, mas em um olhar psicomotor, e do ponto de vista do psicomotricista estão intimamente ligadas, e é delas que embasará a sua atuação e práticas psicomotoras. Trabalhará a afetividade, o amor por cada descoberta feita em seu dia a dia, portanto, afetará e será afetado por seu próprio trabalho. Que possamos em nossas práticas educativas trabalhar a afetividade, o amor, e o carinho pela arte de sermos educadores e educadoras, sem nos permitir esquecer-se do principal ator neste teatro, o educando, suas necessidades e suas buscas.
              O ato educativo não pode, e não se encerra pura e simplesmente nas atividades e no currículo escolar. Quando falamos em educação, temos obrigatoriamente de pensar em seres inacabados, que se renovam dia após dia, constroem e desconstroem, para logo em seguida construírem tudo novamente. Na matriz cognitiva de cada ser existe o dar e receber afeto, e neste fato está constituído o maior diferenciador do ser humano, a afetividade.
              A Psicomotricidade envolve um grande esforço, pois devido ao fato de estar interligada aos processos cognitivos, deveria envolver família, professores e as escolas, para tornar estas questões que em nosso país tem nos envolvido de uma forma avassaladora, famílias sem as referências familiares devidas, pais separados, ou a pior face desta situação que existe por aqui há tanto tempo, o aumento das crianças abandonadas, ou de rua. Nestas décadas que envolveram a solidificação do “new capitalism”, da implantação da globalização, o modo de vida teve mudanças reais, e significativas, e a família teve de se adequar a um novo padrão de valores, e vida. Já na década seguinte ao fim da segunda guerra, com o mundo vivendo sobre a pressão de economias esfaceladas, as questões capitalistas se sobrepõem a qualquer necessidade da vida, ou pior ainda, se sobrepôs á própria família, era o início dos problemas hoje tão evidentes. Para a área da Psicomotricidade era a busca de uma afirmação que ainda estava fundida a psicologia.
              Começa-se a ver que as questões motoras estão ligadas as dificuldades do ensino aprendizagem, o que para alguns teóricos antigos ainda estava claro, devido a está fusão com a Psicologia, que a partir deste momento começa a ser dissolvida, e busca-se um caminho próprio.
              Começa a busca da sua potencialidade na educação. O professor Eugênio Cunha em seu livro Afeto e Aprendizagem – Relação de Amorosidade e Saber na Prática Pedagógica faz exatamente está afirmação, quando relaciona as situações em que falta de afetividade e amor, prejudicam a função educativa, dificultando a tarefa docente. Cabe ressaltar também, o fato das questões aonde este processo já vem da família. Crianças, ou idosos vivendo sem o menor apreço necessário para justificar o querer bem, o interessar-se por uma vida melhor. Portanto, afeto e amor são como verdadeiros ‘fixadores’ do saber, da capacidade cognitiva.
              Em uma classe do projeto de Erradicação do Trabalho Infantil, projeto vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, observamos como as questões afetivas, e sócio afetivas impossibilitam o ensino- aprendizagem. Ao ingressar neste projeto foram logo feitas várias observações a respeito de cada comportamento, de cada dificuldade, de cada situação familiar ali envolvida. E, ao tirar algumas conclusões, pudemos ver que aquelas famílias mais presentes, mais interessadas na vida do filho (a), proporcionavam exatamente o oposto, eram crianças com bom equilíbrio, com autoestima elevada, e com melhores perspectivas de futuro que aquelas que não tinham esta realidade vivida em suas famílias. Para estas crianças até mesmo coisas simples como jogar peteca, movimentos que precisam ter mudanças repentinas de direção para a esquerda, e para a direita, são extremamente difíceis, fazendo com que tais exercícios logo diminuam o seu interesse, tornando as brincadeiras menos atrativas, levando-as a desistência.
              Em determinado momento, introduzimos algumas atividades Psicomotoras de reconhecimento de partes do corpo, e movimentos dirigidos de acordo com cada membro do corpo da criança. Estes movimentos foram elaborados de acordo com pesquisas feitas através de livros e da internet, buscando proporcionar para cada criança um mínimo de coordenação motora. E neste momento ficaram bem evidentes as dificuldades de cada criança, sendo a partir deste momento em que introduzimos não só as atividades Psicomotoras, mas também atividades de afirmação, onde o principal objetivo era elevar a auto-estima de cada educando.
              Neste momento todos foram colocados em um mesmo patamar, e as atividades propostas incluíam todas as crianças, a finalidade da inclusão de todos nesta primeira etapa era situar com bastante certeza quem, e de que forma o trabalho individualizado se daria. Cabe ainda lembrar-se das dificuldades relativas aos principais pontos de atividades motoras, onde todos foram muito mal, mesmo aqueles que não passavam por problemas afetivos.
              Exercícios simples de esquerda e direita foram colocados como atividade de trabalho. Neste momento ficou bem claro que os problemas com grande parte da turma seriam maiores do que se imaginava no início. Mas, seria necessário devido ao fato de nem todos estarem com as mesmas necessidades.
              Desta forma, com todos os casos individualizados, e identificados, percebe-se que grande parte era advinda de fatos sócio-afetivo-emocionais. Ao se deparar com tais fatos, foi percebido que a interligação entre as questões que envolvem as deficiências psicomotoras, e de aprendizagem estão bem próximas umas das outras, se não interligadas.
              E fato é que está interligação não facilita a tarefa docente em nada, pois com sérias deficiências em sua formação de base, o professor (a), não conta com uma formação ampla que lhe dê uma visão geral de tais assuntos. Não tendo o domínio da situação, fica exposto a questões que envolvem desagregação social, e familiar. Neste contexto não consegue cumprir os objetivos da educação, e se expõe em um quadro de violência e indisciplina de seus alunos.
              Nesta turma do projeto de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), vez por outra, tivemos de abdicar de atividades já propostas para o trabalho, para adotarmos hora um posicionamento mais afetivo, hora mais severo com a turma. Para ilustrar bem o que queremos dizer aqui, citaremos uma atividade proposta para o encerramento das atividades com a turma, quando teriam de fazer uma apresentação coreográfica. Ao preparar-se para o inicio da apresentação, uma das meninas afirma o seguinte: “professor se nos vaiarem iremos sair do palco”. Com o que até mesmo d forma severa, o professor não concorda, e afirma para todos que eles não estavam ali como simples alunos, mas como artistas, e se fossem vaiados, deveriam agradecer da mesma forma, pois ambas, vaias e aplausos, fazem parte de qualquer apresentação, naquele momento seus corpos, até aquele momento rígido, se soltaram, fizeram uma ótima apresentação, para logo em seguida receberem inúmeros aplausos.
              A tarefa docente hoje tem por obrigação, se municiar de todos os meios possíveis para ser exercida, correndo o risco de ao não se preparar, inviabilizar sua função precípua, educar, e formar cidadãos.
              Como no caso daqueles alunos com seus corpos rígidos pelo medo, vemos educandos enrijecidos por uma família desagregada, por uma sociedade que exclui que marginaliza. Segundo Le Bouche as dificuldades Psicomotoras acarretam em déficit instrumental predominantemente, podendo acarretar em problemas de comportamento e relacionamento. Quantos casos vemos relacionados a estas afirmações, quantos jovens hoje sucumbiram a este déficit instrumental e a estas dificuldades Psicomotoras.
              Foi exatamente desta forma com que tivemos de trabalhar com as crianças do programa. Uma relação com elas necessariamente teria de envolver atitudes de disciplina comportamental, de postura, tendo que atuar de forma decisiva com todos os problemas que os envolvia. Para exemplificar claramente este fato vamos citar as condições que encontramos, especificamente em relação a uma menina e sua irmã, que obviamente seu nome real será omitido, para este exemplo só a chamaremos de “L”.
              Ao chegarmos ao projeto, nos deparamos com esta criança e os problemas que a cercavam. Para não nos atermos aos fatos vindos de sua família, que não é nossa intenção, só se faz necessária a descrição, pois são os motivadores de seus problemas. Sua mãe é alcoólatra, separada, sendo que seu pai nem mesmo a conhece, seu irmão é envolvido com assaltos e traficantes, espanca a sua mãe, e já estuprou a irmã mais velha. Quando começamos o trabalho com esta turma, buscamos informações com a educadora anterior. No entanto, ao conhecer cada criança, e adolescentes integrantes daquela turma, começamos a focar nossa atenção nos casos de maior gravidade. E o caso de “L”, se mostrou de maior urgência e atenção, devido aos fatos geradores dos transtornos por ela vividos.
              Desenvolvemos um esboço das atitudes a serem trabalhadas com “L”. Dentro das ações, e práticas em sala de aula, acrescentando a afetividade, e a Psicomotricidade, somente tendo a certeza de que o tempo não seria o suficiente para o seu caso. No que ao final das atividades do trabalho no PETI, mostraram uma grande surpresa: “L”, já estava reagindo de forma muito adequada. Para tão pouco tempo de trabalho, sem ter condições de trabalhar seu caso com mais tempo, e especificidade.
              Sua irmã, que chamaremos de “A”, já ofereceu uma resistência maior às mesmas atitudes e trabalhos Psicomotores e afetivos, sua resposta foi mais lenta, e em vários momentos dando a noção que não surtiria um efeito prático desejável.
              Com toda certeza em ambos os casos, tanto o caso Eloá, com um desfecho de violência brutal, como no caso de “L e A”, temos as questões de uma baixa coordenação Psicomotora, e afetividade quase inexistentes. As questões onde se faz necessária uma reeducação Psicomotora, estão bem expressas nos dois casos. Em um, o caso Eloá, o individuo cresce em um ambiente sem limites, sem afeto, enfim, não tem a devida percepção de que na vida amar implica viver e deixar viver, que só se ganha depois de muitas perdas.
              Quanto mais tarde forem verificadas tais situações, mais difícil de ser resolvida será. Fazendo uma crítica dura, mas com toda certeza real, a sociedade brasileira está vivendo o rudimento, já abandonado em sociedades que aderiram as correções Psicomotoras. Em épocas passadas, o ser estava separado de seu corpo de tal forma que não era possível pensar o Sr como o centro das atenções, era a religião, e os clérigos quem sabiam o que era certo ou errado para cada individuo.
              Vós sois templos do espírito santo de Deus. Se tomássemos está afirmação Bíblica, com toda certeza este ser já teria sido liberto muito tempo antes. É com esta visão que devemos ver a Psicomotricidade. Libertadora, que rompe todas as amarras, conforme o texto bíblico citado, em outra parte afirma que “vós sois livres”.
              Partindo deste ponto, em que a Psicomotricidade é libertadora do ser, devemos buscar a liberdade de nossos corpos, do nosso Eu. A nossa sociedade está carente de educadores, e educadoras capazes de buscar, e depois proporcionar aos seus educandos esta liberdade que as atividades Psicomotoras efetivam.
              Juntando em um mesmo eixo de sua prática docente, por um lado afetividade, e em outro as atividades Psicomotoras, o educador com toda certeza estará conduzindo seus alunos à condição de equilíbrio necessária para sua construção cognoscente. Dando-lhe as condições adequadas para fazer por si mesmo, e acima de tudo, ser responsável por tudo que fizer.
              A tragédia de sobreveio àquelas famílias de santo André, com toda certeza se tivessem sido olhadas com afeto, correção, e equilíbrio que tal comportamento exige, teria tido outro desfecho.
              É neste lado da vida, do ser em desequilíbrio, que a Psicomotricidade pode dar uma grande contribuição para sanar problemas na vida da criança, do jovem e de todas as pessoas que em sua infância sofreram um processo de baixa estima, falta de afeto, e teve a parte motora corporal pouco, ou não trabalhada. Atuando de forma decisiva para uma real mudança de postura em relação ao Eu, e ao outro. Auxiliando a família, e, principalmente, os docentes. Ao trabalhar as funções motoras, afetivas e cognitivas, contribuirá para uma mudança de ‘postura’ do ser com o meio onde está inserido.
              A Psicomotricidade tem todas as condições de se tornar em pouco tempo, uma das principais ferramentas em mãos docentes que visem à mudança através do ensino aprendizagem, que busquem não só ensinar, mas transformar através do ensino. Como uma ciência transformadora que é a Psicomotricidade, tem por base de estudo o ser total, como vive, de que forma vive, como se relaciona, aprende e vê o mundo. Seu corpo em movimento é à base de todos os estudos, mas não só, pois ao se interessar por coisas abstratas como o amor, passa a trabalhar com algo mais difícil de ser estudado, e mensurado, pois se trata de um sentimento importante na vida de todos nós, mas não há como estudá-lo, nem prever suas conseqüências, favoráveis ou desfavoráveis.
              Neste primeiro momento, a Psicomotricidade está voltada para as atitudes preventivas, trabalhando um pouco mais com a infância, mas em breve veremos os avanços que esta ‘atividade libertadora’ do ser proporcionará, e sentir-se-á a sua importância para o ser humano em todas as idades e fases da vida.
              A Psicomotricidade vem como ferramenta auxiliar para pediatras, professores de educação física, geriatras, fonoaudiólogos, psicólogos, dentre muitas outras áreas que com toda certeza se beneficiariam de seus métodos. Mas, é com a pedagogia que seus efeitos são mais visíveis, pois ao trabalhar com os problemas de aprendizagem, do comportamento, e das funções cognitivas, efetiva um progresso tão visível, que torna a tarefa educativa mais fácil, agradável e prazerosa, tanto para o educando, quanto para os envolvidos no ensino da criança.
              Segundo o que foi dito por Heráclito, filosofo grego, “tudo caminha, tudo flui, nada está imóvel”. A vida em curso irreversível, jamais retornará ao mesmo ponto de partida, portanto temos de construir bases sólidas, para no futuro termos a sustentação de que precisaremos em nossa vida. Mas a reeducação psicomotora é a única que terá reais condições de reeducar, de erguer e construir as bases frágeis, ou mesmo dar uma sustentação aqueles que não a possuem. E, é nesta capacidade da Psicomotricidade, que a sociedade hoje terá uma esperança de reconstruir as bases familiares e sociais fragilizadas. Dando ao individuo o sentido da vida, que foi perdido por uma educação familiar e escolar ineficientes. Capacitando o ser a ter novamente afeto, capacidade cognitiva, e uma socialização sem as deficiências e carências vista em nossos dias, onde o bem maior, a vida, seja respeitada em sua totalidade. Abandonando as atitudes violentas, os desequilíbrios do corpo e da mente.
              E ao reconstruir a capacidade, e elasticidade de um corpo em inércia, dar qualidade de vida. Em seu livro “Afeto e Aprendizagem, Relação de Morosidade e Saber na Prática Pedagógica”, o autor Eugênio Cunha afirma o seguinte:

Hoje se vive à sombra do que é imposto como sucesso e fracasso, como uma tênue linha onde pode tanto embriagar-se com a ilusão de uma falsa auto-estima que se desfaz no primeiro contra tempo – ou torturar-se com a crueza de uma baixa auto-estima que aprisiona. (CUNHA, p.19)

              Então para ambos os casos, qualidade de vida, educação, e plasticidade corpórea, nos dias vividos na modernidade, são de pouco valor na vida afetiva, emocional e educacional devido ao isolamento dos indivíduos e de suas relações, e se para o individuo adulto é difícil, imaginemos o que se passa no mundo de nossas crianças e adolescentes, com toda certeza teremos gerações com sérias dificuldades relacionais e afetivas.
              Se em todas as religiões o ser humano é a criatura mais importante. Se a filosofia postula a humanidade à soberania em todo o universo. Se, somos a imagem e semelhança do criador para cristãos, judeus e muçulmanos, que em suas escrituras alegam que os nossos corpos são o templo do espírito de Deus, então cuidemos deste “templo” com todo o esmero que for possível, proporcionando saúde, conforto, e acima de tudo uma educação corporal capaz de equilibrar o ser total que somos. 

PALAVRAS CHAVE – Afeto, afetividade, Psicomotricidade e aprendizagem
   
 

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Vínculo Afetivo na Relação Ensino Aprendizagem

- O que é aprender?
- Aprender é... Como quando papai me ensinou a andar de bicicleta. Eu queria muito andar de bicicleta. Então... Papai me deu uma bici... Menor do que a dele. Me ajudou a subir. A bici sozinha cai, tem que segurar andando...
- Dá um pouco de medo, mas papai segura a bici. Ele não subiu na sua bicicleta grande e disse “assim se anda de bici”... Não, ele ficou correndo ao meu lado sempre segurando a bici... Muitos dias e, de repente, sem que eu me desse conta disso, soltou a bici e seguiu correndo ao meu lado. Então eu disse: Ah! Aprendi!
... - Ah! Aprender é quase tão lindo quanto brincar
(Fernandez, 2001 O Saber em jogo)
Este texto tem um encanto simples, mas significativo que relata tantas verdades em poucas palavras. Leio, releio prazerosamente e percebo o quanto é recheado de afetos e ensinamentos.
Fica clara a relação entre a afetividade e o desenvolvimento cognitivo, confirmando que o pensar e o sentir estão intimamente ligados.
Partindo deste ponto, posso afirmar que o vínculo afetivo quando presente torna diferente a relação do sujeito com o aprender, propicia-lhe a oportunidade de ser visto com competências e olhado com possibilidades e respeito.
Voltou-me com clareza a lembrança de pessoas queridas, que fizeram parte da minha caminhada e tanto acrescentaram em meu saber. A presença de experiências marcantes vividas com meus primeiros ensinantes continua atuando positivamente, reforçando a afirmação de que o vínculo recheado de afeto deixa marcas.
Tenho sido educadora há muitos anos e remetendo-me à esta vivência, percebi que o sentimento de afeto ao qual delego importância influenciou e até mudou minha postura frente ao processo de aprender. Inevitavelmente, fiz uma relação entre a aluna que fui e a professora que sou hoje.
A afetividade no dia-a-dia da sala de aula se reflete na preocupação com os alunos, reconhecendo-os como seres autônomos, mostrando exigências coerentes e uma atitude de confiança e respeito à sabedoria e à condição de aprendiz de cada um. Quantas sutilezas estão contidas no mistério da aprendizagem. A maior delas talvez seja a simples fé de que o aluno vai aprender... E a fé move montanhas.
Tenho visto, entretanto rupturas neste importante vínculo, fruto de algumas posturas imaturas e superficiais na relação professor / aluno, onde o autoritarismo erroneamente confunde o ato de dar uma nota baixa com a postura de um professor exigente.
Será que ser exigente é fazer uso da nota como meio de controlar o aluno?
Será que ainda estamos vivendo na época em que os acertos de contas professor / aluno eram feitos através das notas, que ficavam sob o domínio absoluto da subjetividade de cada professor?
Avaliação e nota de aluno são temas intensamente discutidos nos meios acadêmicos. Ainda não foi encontrada uma forma absolutamente justa de aplicação. A meu ver, devemos ter como termômetro, o olhar focado, para detectar o que o aluno sabe.
Quando isto não ocorre e fatos como os citados acontecem, tiramos dele mais do que as notas no boletim. Tiramos notas da construção, da auto-estima e das possibilidades do indivíduo constituir-se como SER único.
O professor queira ou não, interfere positiva ou negativamente na formação de seu aluno, quando coloca em pauta o seu potencial de aprendiz e fragiliza o vínculo estabelecido nas relações.
A quem caberá recompor estas fraturas?
Em sala de aula, transmitimos mais que palavras; transmitimos também crenças, e conteúdos que vão além das linhas dos livros.
Acredito naquele professor que se envolve afetivamente e se vê como formador, que crê na missão de que ensinar vai além dos conteúdos dos livros didáticos.
Com propriedade, Alicia Fernández e Sara Pain nos dizem que para aprender são necessários dois personagens, o ensinante e o aprendente e um vínculo que se estabelece entre ambos. (FERNÁNDEZ, 1991.p.48)
É fato que a aprendizagem é considerada um processo que engloba os indivíduos em questão como um todo.
É importante que o professor perceba-se como facilitador do processo de aprendizagem, pois, quando a relação que estabelece com seu aluno são pautados no vínculo e no afeto, propicia a ele a oportunidade de: mostrar, guardar, criar, entregar o conhecimento e permite que o outro possa investigar, incorporar e apropriar-se do conhecimento. Desta forma há uma relação que ultrapassa o nível acadêmico e permite que ocorra um olhar diferenciado em direção ao desconhecido.
Quando este olhar permeado de afetos, em que os diferentes vínculos circularam acontece, há espaço para que o aluno seja ativo e autor do próprio conhecimento. Aí sim, há um despertar, uma vontade de apropriar-se do conhecimento. Há então um real aprendizado e o encontro efetivo de quem ensina com quem aprende. Este envolvimento dá a oportunidade para que haja um movimento na direção do desabrochar de cada um.
A esperança é primordial na relação professor / aluno. O olhar com possibilidades à condição de aprender, que vem do afeto responsável, a meu ver é necessário para o encontro do indivíduo com a crença nele próprio (“eu posso”). Este espaço possibilita a circulação do saber em direção à vida e ao desabrochar de cada aluno.
Enfim, para concluir, as relações permeadas pelo vínculo afetivo contribuem para reparar possíveis fraturas no processo de aquisição do conhecimento de cada um dá espaço para que haja um aprendizado que transforma interiormente propiciando a ele o saber fazer e ser atuante com possibilidades de posicionar-se frente a uma sociedade exigente e em constante movimento.
Posso então afirmar que o afeto faz diferença na construção do sujeito e deixa marcas em suas conquistas.
Cecília G.M. Faro - Psicopedagoga formada pela PUC-SP com especialização em dislexia; Pedagoga atuando na rede particular, no ensino Fundamental desde 1976
http://www.profala.com/arteducesp81.htm em 24/06/2010 às 11h 31m

Autora: Cecília G.M. Faro